A escravidão dos que vivem para si mesmos
Diocese de Barretos - 30 de agosto de 2024
A escravidão dos que vivem para si mesmos
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(Por: Papa Francisco, setembro, 2018)
O ego pode tornar-se um verdugo que tortura o homem, onde quer que ele se encontre, provocando-lhe a mais profunda opressão, aquela que se chama “pecado”, que não é banal violação de um código, mas fracasso da existência e condição de escravos (cf. Jo 8, 34). Afinal, o pecado é dizer e fazer ego. “Quero fazer isto e não me importa se há um limite, se existe um mandamento, nem sequer importa se existe o amor”. O ego, pensemos por exemplo nas paixões humanas: o guloso, o luxurioso, o avarento, o iracundo, o invejoso, o preguiçoso, o soberbo — e assim por diante — são escravos dos seus vícios, que os tiranizam e atormentam. Não há trégua para o guloso, porque a gula é a hipocrisia do estômago, que está cheio, mas faz-nos crer que está vazio. O estômago hipócrita torna-nos gulosos. Somos escravos de um estômago hipócrita. Não há trégua para o guloso e o luxurioso, que devem viver de prazer; o anseio da posse destrói o avarento, que amontoa sempre dinheiro, fazendo mal ao próximo; o fogo da ira e o caruncho da inveja arruínam os relacionamentos. Os escritores dizem que a inveja amarelece o corpo e a alma, como quando uma pessoa tem hepatite: torna-se amarela. Os invejosos têm a alma amarela, porque nunca podem ter o vigor da saúde da alma. A inveja destrói. A preguiça, que evita qualquer esforço, torna-nos incapazes de viver; o egocentrismo — aquele ego do qual eu falava — soberbo escava um fosso entre nós e os outros.
Caros irmãos e irmãs, quem é, por conseguinte, o verdadeiro escravo? Quem é aquele que não conhece o repouso? Quem não é capaz de amar! E todos estes vícios, estes pecados, este egoísmo nos afastam do amor e nos tornam incapazes de amar. Somos escravos de nós mesmos e não podemos amar, porque o amor é sempre pelos outros. O terceiro mandamento, que convida a celebrar no repouso a libertação, para nós cristãos é profecia do Senhor Jesus, que interrompe a escravidão interior do pecado para tornar o homem capaz de amar. O amor verdadeiro é a liberdade autêntica: desapega da posse, reconstrói os relacionamentos, sabe acolher e valorizar o próximo, transforma em dom jubiloso todo o cansaço, tornando-nos capazes de comunhão. O amor liberta até na prisão, mesmo se somos frágeis e limitados.
Esta é a liberdade que recebemos do nosso Redentor, nosso Senhor Jesus Cristo.