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Brasil em chamas

O Diário - 28 de setembro de 2024

Brasil em chamas

Marcelo Murta

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A miragem no deserto revela o mar imaginário no horizonte. A estiagem dos últimos meses tem escondido até as estrelas no céu cinzento. Setembro de Primavera de flores murchas agonizando, implorando chuva. Sensação térmica de quarenta graus. Desidratação compulsória. Receita médica de criança com virose. Revolta da natureza. Desperta na memória, Vidas Secas de Graciliano Ramos. Saga da tragédia nordestina adentrando o Grande Sertão do interior do país. O sol beija o pasto incendiando a invernada. Ventos uivantes soprando fuligem de cana. Vassouras removendo folhas secas nos quintais esquecidos. Poeira marrom pintando o asfalto. Cortina de fumaça na rodovia. A falta de visão faz o caminhão brecar. Acidente fatal. Sem massa molhada o João de Barro fica sem teto. Louças sujas empilhadas, reféns de gotas de torneira. Banho de bacia como antigamente. Os pássaros emigram para outras paragens em busca da substância química, elixir da existência. Debaixo das árvores, ar condicionado natural. A cidade há décadas enterra suas florestas. Cemitério de calçadas sem acessibilidade. Em Barretos o rio Pitangueiras aposenta, chora sem lágrimas encerrando sua carreira. Fogo bravo, o retorno. Descaso de gestores públicos. Escassez de gestão administrativa. O Brasil em chamas e os artistas militantes em silêncio. Tiraram a verba do meio ambiente e  colocaram na Lei Rouanet. A imprensa ignora o fato. Negacionismo ambientalista. A crise dos recursos hídricos está ligada às desigualdades sociais. O controle do uso da água significa deter o Poder. Ela vale mais que o ouro. Água é vida. Mais Brasil, menos Brasília. Abraços cavalares.

Marcelo Murta