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Médico do Hospital de Amor alerta para riscos do cigarro eletrônico

rodrigo.pessoa - 12 de junho de 2022

Médico do Hospital de Amor alerta para riscos do cigarro eletrônico

O médico Ricardo Gama é cirurgião de cabeça e pescoço no Hospital de Amor de Barretos

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Segundo o dr. Ricardo Gama, apesar de recente, é sabido que a nova modalidade de fumar traz sérias consequências ao usuário

A nova moda dos cigarros eletrônicos que tem crescido, principalmente, entre os jovens, deve ter uma atenção especial pelo usuário. Segundo o médico Ricardo Gama, que atua no Hospital de Amor de Barretos, apesar da proposta desta modalidade de fumo de ser menos nociva, isso não se comprova e pode trazer sérios riscos para o consumidor. Confira mais na entrevista:

O Diário: Quais os riscos do cigarro eletrônico, os chamados vapes, para a saúde?

Dr. Ricardo: Esse risco é muito grande e considerável. Na verdade, os chamados cigarros eletrônicos, vapes, ecigarrettes, ecigars, epipes, enfim, há uma infinidade de nomes, os que têm formato de pen drive ou caneta. Pouco se sabe a respeito destes produtos, porque apesar de não serem tão atuais, eles apresentam substâncias tóxicas, nocivas à saúde humana, tanto no ponto de vista respiratório, parte respiratória-pulmonar, como substâncias cancerígenas. São comercializadas não de forma aprovada pela nossa legislação e têm seu uso sido crescente, principalmente entre os jovens, com o apelo de ser não fumante, não produtor de fumaça, ser produtor de vapor, que seria “uma água aromatizada”, que tem todo o glamour que já foi atribuído ao cigarro como uma forma de libertação, de independência, de se auto identificar e até de ser entrosar entre seus pares. Por isso, ele tem sido comumente utilizado entre jovens, especialmente os adolescentes. Existe uma estimativa americana recente que mostrou que dos anos 2000 para os anos 2010, houve um incremento em torno de 60% das vendas dos vapes.

Cigarro eletrônico pode ter diversos formatos, inclusive, de caneta

O Diário: O fato de não ter regulamentação no Brasil para estes produtos tem importância?

Dr. Ricardo: Em alguns países, o uso dos vapes é regulamentado. Eles vieram como uma pressão até mesmo da indústria do tabaco de dizer que ele promoveria, de certa forma, um início de cessação do hábito tabágico. Poderia substituir o hábito tabágico convencional por não ter alcatrão, por ter versões sem nicotina ou pouca nicotina, o que não é uma verdade. E ter uma quantidade mínima ou nenhuma de substância tóxica, e poderia ajudar, gradativamente, de uma forma, digamos terapêutica, a reduzir o consumo do tabaco até que indivíduo cessasse. Isso, cientificamente, carece de comprovação. Se ele seria de forma segura e eficaz aprovado com o objetivo de cessar o tabagismo, isso também não é cientificamente comprovado. Foi baseado nisso, que os vapes entraram no mercado. Desde 2009, se não me engano, a Anvisa estabeleceu que a comercialização, importação e a propaganda dos vapers no Brasil é proibida. Em teoria, é proibido o uso dessas substancias, principalmente em termos de locais públicos. Lembrando que o Brasil tem uma política de antitabagismo muito forte se for comparar com outros países. Mais de 90% dos nossos ambientes públicos são livres do tabaco. Temos a sobretaxação dos impostos das indústrias na compra do tabaco e programas de cessação do tabagismo. São políticas muito bem estabelecidas no Brasil, o que faz com que o nosso país tenha uma política antitabaco mais forte. E isso se estende ao uso de cigarros eletrônicos, assim como o narguilé.

O Diário: Qual principal estratégia para combater essa forma de fumar?

Dr. Ricardo: A melhor forma é não começar a utilização, é educação. É passar para os jovens, adolescentes e crianças, dependendo da faixa etária, que fumar independente da forma como fuma, seja com cigarro convencional produtor de fumaça ou vape, produtor de vapor aromatizado, é tão maléfico quanto. A base dos vapes, que vêm com refil líquido, tem a nicotina e ela causa dependência química. A nicotina tem a capacidade, uma vez que entra em contato com algumas áreas específicas do cérebro, de ativar a produção de neurotransmissores, que são substâncias que banham o encéfalo diretamente relacionadas com a sensação de prazer, com a sensação de recompensa. Toda vez que alguém traga seja um cigarro comum ou vape, de 15 a 25 segundos depois da primeira tragada, essa sensação de prazer já começa a aparecer. E o indivíduo tem cada vez mais vontade de consumir a nicotina. Além da nicotina que é tóxica, têm vários estudos mostrando os malefícios da nicotina tanto para as artérias, para o coração e até para o desenvolvimento de doenças como o câncer, junto dela presente na folha do tabaco vai uma série de outras substâncias que são cancerígenas, causadoras de doença pulmonar, micropartículas, compostos químicos que são comprovadamente carcinogênicos. Como a base é um composto que causa dependência, a pessoa acaba viciando e querendo consumir cada vez mais para ter o seu prazer.

O Diário: Quais doenças o tababismo tradicional pode causar?

Dr. Ricardo: Além da dependência que a nicotina causa e dos efeitos nocivos que a nicotina tem, os outros compostos presentes no tabaco causam uma série de doenças. Isso é cientificamente comprovado. Principalmente, as doenças pulmonares, a mais comum é o enfisema pulmonar, que é a doença pulmonar obstrutiva crônica. É a destruição aos poucos do órgão com o comprometimento da oxigenação dos tecidos, já que essa é a principal função do pulmão. Isso também pode ser um começo e exposição para outras drogas, os compostos presentes no tabaco também estão relacionados a doenças cardíacas, cardiovasculares, a principal, o infarto agudo do miocárdio. Quem fuma tem, no mínimo, 80% mais chance de infartar na comparação com quem nunca fumou. Doenças como hipertensão arterial, que são bastante comuns na nossa população, o risco é 100 vezes maior de ter em um fumante do que em um não fumante. Fora isso, derrame cerebral, se a gestante fuma, morte prematura neonatal, morte súbita da criança, aborto e o câncer. Sabemos que 85% das mortes ocasionadas por câncer de pulmão estão relacionadas com o tabaco.