Problemas na vizinhança
O Diário - 15 de agosto de 2024
David de Oliveira Zanon - Bacharel em Relações Econômicas Internacionais pela UFMG com Formação Complementar em Ciência Política
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Em julho, ocorreram as eleições presidenciais na Venezuela, marcadas pela expectativa de uma possível transição democrática. O país, governado por um regime autoritário há mais de 25 anos, tem Nicolás Maduro como presidente desde que sucedeu Hugo Chávez após sua morte em 2013. O cenário político venezuelano é amplamente considerado antidemocrático pelas principais organizações internacionais. A repressão a opositores e o desrespeito aos direitos humanos levaram vários países a impor sanções econômicas e à suspensão da Venezuela do Mercosul em 2016.
As últimas eleições ocorreram no contexto dos Acordos de Barbados (2023), mediados pela Noruega para garantir uma eleição democrática. Esses acordos exigiam a garantia de direitos políticos à oposição, representada pelo candidato Edmundo González (MUD), além da presença de observadores internacionais, em troca da flexibilização das sanções que afetam a economia do país. No entanto, antes mesmo das eleições, Maduro desrespeitou o acordo ao expulsar diversos observadores, abrindo espaço para irregularidades no processo eleitoral.
Na semana seguinte à eleição, Maduro se autodeclarou presidente eleito, mas as suspeitas de fraude já dominavam o cenário. As atas eleitorais, que registram o número de votos em cada urna, não foram disponibilizadas, com a justificativa de um suposto “ataque hacker” ao sistema eleitoral. Em resposta, a oposição começou a coletar e publicar as atas por conta própria, as quais indicavam matematicamente uma vitória de González sobre Maduro.
A reação internacional à crise na Venezuela se divide em três grupos: países que não reconhecem Maduro como vencedor, como Argentina e EUA; países aliados a Maduro, como China e Rússia, que o parabenizaram; e países como Brasil, México e Colômbia, que adotam uma postura mediadora, exigindo transparência eleitoral por meio da publicação oficial das atas. O avanço das negociações lideradas por este terceiro grupo poderá definir o futuro do regime, que já se encontra desgastado, com o potencial de abrir um caminho democrático aos nossos vizinhos injustiçados.
David de Oliveira Zanon - Bacharel em Relações Econômicas Internacionais pela UFMG com Formação Complementar em Ciência Política