Um acidente aéreo normalmente é terrível, uma tragédia. Aos que sempre estão voando como eu (tinha acabado de voar em um avião igual na quarta e quinta), causa uma comoção e nos faz refletir nas pessoas e que poderia ser nós mesmos naquele avião, dentro dessa tragédia. Algumas daquelas pessoas certamente eram de direita, outros de esquerda, mas agora, isso não importa. Alguns eram favoráveis a uma vida saudável, alguns acreditavam que na vida precisa se viver da forma que der satisfação e comer tudo que te faça feliz e isso, agora não importa. Uns pensavam somente em ser rico e aumentar faturamentos. Outros não ligavam, pois viver a vida aproveitando as pessoas e o momento vale mais e isso, de novo, agora não importa. Uns valorizavam a grife, outros não. Algum aposto tinha brigado com amigos por temas inúteis e coisas triviais de trabalho e vaidades, outros com pais e irmãos e agora isso não importa. A vida é um sopro, se desgastar com pessoas que somente te consomem tempo e energia, sobre tópicos fúteis, somente te tira o tempo e a energia de poder curtir as pessoas boas na vida, e curtir um pão com ovo, um arroz com feijão bem feito num dia em que se está faminto, uma soneca pós-almoço, um vinho delicioso, um olhar no espelho para si mesmo e se deliciar com o que vê. A vida é um sopro. Sim, poderia ser eu, você, qualquer um que me lê agora. Uma morte coletiva coloca todo mundo mentalmente dentro do avião, te faz pensar o que sua família estaria sofrendo com o seu desaparecimento repentino. Não tem como escapar. Eu já briguei em balcão para garantir meu horário para minhas palestras, já viajei muito nesse avião (como dito no início voei nele um dia antes), pois ultimamente vivo viajando quatro a seis voos por mês. É uma colcha de casualidades inexplicáveis. Você se sente aliviado pela sua existência poupada e também mortificado por quem não contou com a mesma sorte. É o medo de não ter o controle sobre o destino e pesar porque alguém partiu simbolicamente em seu lugar. É o frio e o quente misturados – suor gélido pela sobrevivência e lágrimas quentes por tanta gente inocente de seu fim. Não há como não se ver preso ao quase. A vida é um sopro. Um bom domingo para você.