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2050: uma sociedade quase sem irmãos, tios e primos

O Diário - 5 de junho de 2024

2050: uma sociedade quase sem irmãos, tios e primos

Mario Luiz RibeiroAdvogado, professor universitário, Mestre e Doutor em Direitoe-mail: [email protected]

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Há uma geração de nascidos na segunda metade do Século XX que se depararam com uma realidade que hoje não faz parte do cotidiano. Muito embora meus pais terem tido dois filhos, meus avós, paterno e materno, tiveram ao todo quatorze filhas e filhos.

Numa conta matemática simples, tive doze tios e tias. E aí a árvore genealógica vai ficando cheia de galhos. Foram oito primos e primas do lado paterno e trinta e dois primos em primeiro grau do lado materno. Somados todos os primos e primas de primeiro grau, quarenta. E, sinceramente, a partir daí, perdi as contas e mesmo os nomes dos primos de segundo, terceiro e quarto graus.

Enfim, essa introdução é para fazer a reflexão de que, muito em breve, a partir das estatísticas mais recentes no Brasil, não teremos mais essa situação se repetindo.

Diante das novas formulações de família, o IBGE entendeu por bem em fixar sua métrica não mais a partir dos relacionamentos declarados, mas apenas a relação mulher e o consequente número de filhos.

Que o número médio de filhos por mulher vem se reduzindo no Brasil a partir dos anos 60 do século XX, isso é evidente, até pelo exemplo da minha família, que tem paralelo em diversas outras casas.

O IBGE, analisando tais dados, aponta que a taxa de fecundidade no Brasil reduziu-se de 6,16 em 1940 para 1,87 em 2010. Por volta de 2030, deve ser alcançado o patamar de 1,5, que permanecerá estável até 2050, isto propõe que, em universo de três mulheres, uma terá dois filhos, outra um e a terceira não terá filhos.

E, numa consequência lógica, as gerações posteriores não terão tios nem primos em um prazo previsto de pouco mais de um quarto de século, ou seja, um significativo número de pais de filhos únicos, que além de não experimentarem o prazer da fraternidade sanguínea, sem convivência compartilhada e, no futuro, pais, de pessoas sem tios e primos.

Fico pensando como isso será triste, pois deixaremos experimentar a riqueza da diversidade fraterna!

Mario Luiz Ribeiro - Advogado, professor universitário, Mestre e Doutor em Direito

e-mail: [email protected]