Zeus envia seu mensageiro
luciano-borges - 22 de maio de 2022

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
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A palavra tem poder
A arte política é essencialmente um exercício da linguagem. O homem consciente que usa a palavra a favor de si, e quisera a favor do coletivo, só o faz por meio da política.
A mitologia grega, por exemplo, nos dá conta que Zeus, o pai dos deuses, do alto do monte Olimpo, resolve enviar um mensageiro à humanidade, Hermes, com a vital missão de ensinar a ela a arte de governar cidades. Zeus acreditava que tal princípio ordenador, a virtude política, a habilidade no trato das relações humanas, também seria o laço de aproximação entre os humanos, incautos indivíduos, que nos primeiros tempos não conseguiam viver em conjunto.
Os mitos, apesar de serem lidos na contemporaneidade como fábulas, servem de modelo exemplar para as atividades humanas significativas. Ademais, os antigos gregos, ao contarem uma história que ilustra a preocupação de Zeus com seres imperfeitos, criados do barro, fazem referência não apenas a uma narrativa mítica, mas a uma realidade histórica primordial: a condição humana anterior ao advento das cidades.
A despeito do mito, as relações entre os indivíduos são reguladas por discursos, contraditos ou não, que vêm à luz pelo emprego da palavra. É por intermédio dela, não importa se no campo ou na cidade, que o humano se reconhece, compreende o entorno e até identifica o outro como um inimigo ou um igual.
A palavra é o maior instrumento de poder entre todos. Ela sempre foi a chave de toda autoridade, o recurso político por excelência. Aliás, o meio de domínio e comando supremo de uns sobre outros.