Os perigos do consumismo desenfreado e sem discernimento
Diocese de Barretos - 15 de agosto de 2024

Os perigos do consumismo desenfreado e sem discernimento
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Até bem pouco tempo, o mundo globalizado era entendido como uma questão macroeconômica, um sistema anônimo que regia as riquezas do planeta a partir das grandes corporações e das potências econômicas. Hoje, é preciso dizer que esse regime incluiu em sua lógica o indivíduo, com seu desejo humano que busca satisfação nas práticas de consumo. A “alma do mercado” entra na alma humana, criando um círculo vicioso que inclui de maneira perversa as mais diferentes condições de vida coletiva e individual. Esse é o ápice do processo da globalização econômica: o consumo se torna o modo de vida comum cada vez mais universalizado.
Trata-se de um modo de produzir e consumir que se torna costume e norma e que opera a partir de uma lógica individualista: a busca de maior bem-estar com o menor esforço. Essa lógica individualista se caracteriza por:
Satisfação individual e indiferença pelo outro; a oferta de satisfação individual dispensa a relação com o outro como imperativo ético, e naturaliza a indiferença em relação às necessidades e direitos do outro.
Supremacia do desejo em relação às necessidades; o desejo satisfeito se identifica com necessidade e dispensa o discernimento do que é necessidade básica e o que é completamente supérfluo.
Predomínio da aparência em relação à realidade; a linguagem estética, que oferece felicidade pela via da beleza nos diferentes produtos, dispensa a pergunta ética pela veracidade e pela bondade real das coisas que são adquiridas.
Inclusão perversa; todos os indivíduos são incluídos no mercado dos produtos “novos” e “bons” que oferecem, com suas marcas, não somente a felicidade, mas também status social, na medida em que tornam todos “iguais” e escondem sob essa falsa igualdade as diferentes posições sociais, que na prática excluem grande número deles.
Falsa satisfação; os produtos que oferecem bem-estar e felicidade são por si mesmos efêmeros, como são os desejos humanos jamais satisfeitos plenamente. Nesse sentido, trata-se de uma oferta que não realiza o que promete ao sustentar a última promessa como plena e definitiva, até que se dissolva e ceda lugar a outra, com um novo produto e um novo desejo.
Este sistema, que se expande por todo o mundo, se torna um modo de vida e tende a ser assimilado como algo normal e bom e a penetrar as ações, os valores humanos de um modo geral e as vivências religiosas. Cada nação e cada indivíduo o reproduzem de certa maneira, buscando formas de “inclusão” em sua dinâmica, ainda que vivendo de suas migalhas ou de pequena parte de seus benefícios (Doc. 105 da CNBB, §§ 72 a 74).