No passado de Barretos, são muitos os lugares que eu gostaria de ter conhecido pessoalmente. E, com certeza, o campo de aviação seria um deles. Não pela estrutura em si, mas pelas histórias que o circundam. Uma delas é a mais cômica de todas, quem me contou foi o sr. Clóvis Ferreira de Morais, o qual tive a honra de biografar, em coautoria com Luis Otavio Martins, na obra “Comandante Morais: o voo de uma vida”.

Clóvis, engenheiro civil, foi também presidente do aeroclube de Barretos à época da transição do campo de aviação – que se situava onde hoje é o Unifeb – para o atual aeroporto. Ocorre que o antigo aeroporto se localizava entre os acessos aos bairros da região sul, como Frigorífico e Vila Pereira, e ao centro, e, por isso, era passagem aos moradores desses locais. Desta forma, muita gente se arriscava “cortando caminho” no campo de aviação para chegar aos bairros, ao invés de buscarem outra alternativa. E isso era extremamente perigoso, pois sabe-se que todo campo aéreo deve manter-se isolado de qualquer tipo de movimentação para a segurança das pessoas e da dinâmica dos voos. 

No início dos anos 1960, ao invés de resolver o problema do perigo das pessoas atravessarem o campo de aviação, a prefeitura, comandada pelo prefeito Christiano de Carvalho, instalou uma placa no local com os dizeres: “Cuidado! Cruzamento com aviões”. Diante disso e sem precisar dizer o quanto a situação era cômica se não fosse trágica, as notícias chegaram à imprensa de grande circulação no país. 

Fui à caça dessa publicação e encontrei na coluna “O impossível acontece”, assinada por JCC, na edição n. 4 de 1964 da revista “O Cruzeiro”, a seguinte nota: “[...] é o caso do Viscount, da VASP, que atropelou, no Aeroporto Dois de Julho, vários jumentos, com avarias para o avião e seus passageiros, na maioria deputados e senadores. Para evitar acontecimentos funestos como esse é que o prefeito paulista de Barretos (informa Elpídio Medeiros), homem prudente e sábio, mandou colocar, numa estrada que atravessa a cabeça da pista do campo de pouso local, o seguinte aviso em letras grandes: CUIDADO! CRUZAMENTO COM AVIÕES”. 

A nota vestiu-se de ironia, o prefeito da carapuça, o povo do riso.