Reescrita
O Diário - 24 de maio de 2025

Prof. Luciano Borges é doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
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Costurando o pensamento
Reescrever é reinventar o sentido sem perder a essência. Em tempos de comunicação veloz, quem domina a reescrita sai na frente porque sabe adequar sua mensagem, ajustar o tom, refinar o estilo. Uma simples frase pode ganhar novos contornos e se adaptar a diferentes contextos, como é possível verificar ao se trabalhar a reescrita na máxima: “As pessoa não determinam seu futuro. Elas determinam os seus hábitos. Os seus hábitos, por sua vez, determinam o seu futuro”. A partir dela, é possível criar textos diversos – do publicitário ao jurídico – sem perder o conteúdo central. Isso mostra que a reescrita não é mera técnica de correção, mas arte de reposicionar ideias conforme a intenção comunicativa.
Em um anúncio de coaching, que foca metas e ações, a frase reescrita poderia soar assim: “Você não controla o amanhã, mas pode escolher seus hábitos hoje. E são eles que traçarão o seu caminho”. Já num texto reflexivo em tom filosófico, poderia assumir esta forma: “O futuro não é um ponto fixo a ser alcançado, mas o reflexo de rotinas silenciosas que moldam a trajetória humana”. Se o objetivo fosse um editorial jornalístico sobre educação, a frase ganharia densidade social: “Mais do que prever o futuro dos estudantes, é preciso garantir-lhes condições de cultivar bons hábitos, pois são eles que pavimentam os caminhos da autonomia e do sucesso”. Essas reformulações mostram que o poder de uma ideia está em sua maleabilidade.
Mesmo em gêneros mais técnicos ou objetivos, a reescrita opera com eficácia. Em um parecer jurídico, por exemplo, a estrutura se transforma: “Não é o futuro que se decide diretamente, mas os comportamentos reiterados que, ao longo do tempo, o determinam”. Já em um boletim escolar, voltado a pais e responsáveis, o tom ganha proximidade: “O desempenho dos alunos está menos ligado ao acaso e mais à regularidade dos estudos que desenvolvem habitualmente”. Portanto, em cada versão, a base conceitual se preserva, mas a superfície textual se ajusta como roupa feita sob medida. Este é o valor da reescrita: transformar um tijolo de linguagem em diversas fachadas de sentido. Aliás, quem reescreve com consciência, escreve para ser entendido – em qualquer praça ou página.
Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais