Trânsito não é brincadeira
O Diário - 25 de maio de 2025

Carlos D. Crepaldi Junior. Advogado especialista em Gestão e Direito de TrânsitoEx-Conselheiro do CETRAN-SP . Diretor da ABATRAN
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O Código de Trânsito Brasileiro, em vigor desde 1998, determinou em seu artigo 76 que a educação para o trânsito seria conteúdo obrigatório nas escolas, desde a pré-escola até o terceiro grau.
Na prática, o artigo é previsão ignorada. O que se vê são ações isoladas, geralmente com mini cidades montadas, onde crianças simulam ser motoristas, ciclistas ou pedestres, simulando uma vida adulta em um espaço que, para elas, mais parece um grande parque de diversões.
O problema é que isso está longe de ser educação de trânsito. O que deveria ser um processo formativo, capaz de gerar consciência, responsabilidade e senso coletivo, acaba se resumindo a uma brincadeira.
A criança sai dali achando que trânsito é algo divertido, sem refletir sobre as consequências dos próprios atos. Quando adultas, carregam mais as lembranças da brincadeira do que a noção real de responsabilidade. E o trânsito não admite erros.
Não há margem para testes, não há botão de reset, não há segunda chance quando o erro custa uma vida. Por isso, mais do que ensinar a regra de que vermelho é parar e verde é seguir, é preciso educar para o trânsito na sua essência, formando caráter, despertando empatia, promovendo uma cultura de convivência, de respeito e de cuidado com o outro.
O trânsito reflete exatamente o que somos como sociedade. Pessoas intolerantes, impacientes e egoístas fora dele serão as mesmas ao dirigir, pedalar ou atravessar uma rua. A mudança deve começar pelas pessoas, e ela não virá enquanto a escola tratar a educação de trânsito como mera atividade lúdica, decorativa, apenas para fotos ou para preencher calendário de eventos.
Trânsito não é brincadeira, não é jogo, não é extensão das diversões da infância. Trânsito é vida, e com vida não se brinca.