Na solidão, se refazer
Diocese de Barretos - 28 de maio de 2025

Na solidão, se refazer
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Por Pe. Flávio Pereira, Vigário Catedral, Barretos-SP
Existe um momento na vida de todo mundo em que entramos no quarto e ficamos conosco na solidão. Pensamentos perpassam-nos, situações são vividas mentalmente e planos são feitos e refeitos em questões de segundos. Se não o fazemos em nossos quartos, com certeza há, em nossas casas, um lugar que nos faz encontrarmo-nos conosco na solidão e no silêncio. A solidão e o silêncio não podem ser encarados como algo ruim, ao passo que estes podem nos auxiliar a nos refazer e nos reencontrarmo-nos. Por diversas vezes observamos no evangelho que Jesus se retirava e, sozinho, entrava em intimidade com o Pai, mostrando assim a necessidade de também nos retirarmos, de criarmos intimidade com o Altíssimo. O cantor Michael Bublé disse em sua música ‘Home’ que “talvez cercado por um milhão de pessoas, ainda me sinto sozinho (tradução livre do trecho: maybe surrounded by a million people, I still feel all alone)”. Porém o ato de estar sozinho não denota algo meramente negativo, podendo representar um refazer-se, a partir do momento da solidão que experimentamos. É no silêncio que temos a oportunidade para olharmo-nos, nos conhecermos em nossa intimidade conosco. Ali contemplamos nossas misérias, mazelas, pecados, nossos fracassos e, também, nossos sucessos. A oportunidade de se olhar se dá mediante à nossa retirada do barulho que nos incomoda, até mesmo de forma interna. É um aquietar o turbilhão de barulho que se formara por diversificadas situações corriqueiras. O barulho faz com que nós não escutemos uma voz específica: a de Deus. Diante do turbilhão de vozes que ecoam por aí, faz-se necessário silenciar o conflito que há dentro de nós, o qual gera um caos impossível de ser domado, não nos permitindo prestar atenção, escutar e colocar em prática o que ouvimos Dele. O humano não deve falar mais alto que a voz do divino em cada um de nós. Aquele que se retira consegue se silenciar e silenciando a si mesmo, consegue a capacidade para escutar – no silêncio, na paz e na tranquilidade – a voz de Deus. É através do exercício de retirar-se, de ir para o deserto, para a quietude absoluta – e através dessa solidão – que o homem busca se refazer. Na experiência do retirar-se, por meio da solidão e do silêncio, que ele se encontra consigo e com Deus. No silêncio façamos a experiência dos encontros: com Deus, conosco e com a solidão transformadora. Partindo do olhar humano, reencontremo-nos com o Deus altíssimo. Olhar-se é se conhecer, e se conhecendo, conhecer o Pai.