Esqueci minha senha
Bolsonaro, o patriota. Será mesmo?

O Diário - 6 de junho de 2025

Bolsonaro, o patriota. Será mesmo?

DANILO PIMENTA SERRANO É ADVOGADO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

Compartilhar


O ex-presidente Jair Bolsonaro sempre buscou projetar uma imagem de patriota, alguém apaixonado por seu país, que coloca os interesses da pátria em primeiro lugar, à frente, inclusive, dos seus. 

Entretanto, não me parecem patrióticos os gestos do ex-presidente nas últimas semanas. São duas as suas recentes movimentações que, ao meu ver, colocam em xeque o seu patriotismo: a insistência em colocar-se como candidato à presidência da República em 2026, mesmo sabendo que sua inelegibilidade no próximo pleito é irreversível; e o fato de ter deixado de se empenhar, ou cobrar empenho de seus aliados, na aprovação do projeto de anistia dos condenados pelos atos de 8 de janeiro, ao perceber que a anistia beneficiaria apenas a “massa de manobra” que promoveu o quebra-quebra em Brasília, sem incluir os supostos “cabeças” dos atos.

No primeiro caso, ao se negar a apontar um sucessor político, e insistir em sua impossível candidatura presidencial, Bolsonaro, ao repetir a tática de Lula, então presidiário em 2018, atrasa enormemente a escolha de um nome sério e viável da direita e a formação de uma chapa sólida para o pleito de 2026. Ao insistir em seu nome, ou ao ventilar o nome de familiares absolutamente inaptos para o cargo, Bolsonaro age ativamente em favor de Lula, que dificilmente se reelegeria diante de um adversário minimamente sério, em razão de sua baixa popularidade, reflexo do péssimo governo que vem realizando. 

No segundo caso, ao deixar de se empenhar na aprovação da anistia aos presos do 8 de janeiro, após perceber que o projeto não lhe beneficiaria diretamente, Bolsonaro jogou aos leões os “idiotas úteis” que vandalizaram Brasília naquele famigerado dia. Fica claro, portanto, que o capitão nunca se preocupou realmente com a cabeleireira ou o pipoqueiro preso por aqueles atos, mas sim em salvar a sua própria pele. O ex-presidente se valeu da comoção decorrente das penas absolutamente desproporcionais fixadas para as pessoas que foram massa de manobra, para forçar a aprovação de um projeto que, ao que tudo indica, foi feito sob medida para ele mesmo. 

Está na hora de Jair Bolsonaro agir como a patriota que diz ser, sob pena de Brasil continuar no atoleiro político no qual se encontra, guiado por um governo perdulário e sem rumo.