Esqueci minha senha
Barretos: campo de guerra em 1932

O Diário - 8 de julho de 2025

Barretos: campo de guerra em 1932

KARLA ARMANI, historiadora e titular cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani 

Compartilhar


Penso que é ínfima a dimensão que o povo paulista oferece ao ocorrido em 9 de julho de 1932, a Revolução Constitucionalista de 1932. O barretense parece não ficar longe disso. E todo 9 de julho é momento de sensibilizar as pessoas com essa história.

As cidades paulistas, principalmente aquelas que faziam fronteiras com estados rivais (como RJ e MG), transformaram-se em zonas de guerra. E Barretos era parte dessa realidade já que fazia fronteira com o rio Grande – divisa com MG – e ficou responsável pela guarnição do porto Antônio Prado, Barra Grande (Guaraci) e outras ilhas. É óbvio, portanto, o quanto a cidade mudou a partir do dia 10 de julho. Além dos cartórios fecharem, o comunicado foi recebido com muito alarde: automóveis em correria, gente pelas esquinas, famílias se isolando dentro de casa e jovens ansiosos para se alistarem como soldados voluntários. Escolas foram fechadas, professoras se organizavam para visitarem os acampamentos oferecendo comida e uniformes aos jovens combatentes. 

A concentração dos mantimentos, armas e todos os materiais estava no quartel improvisado na sede do Grêmio Literário e Recreativo. À época, era um prédio novo, de belíssima arquitetura, à rua 18, em frente à praça central (hoje, edifício do banco Bradesco). Nesse quartel, comandado pelo Batalhão “Júlio Marcondes Salgado”, eram planejadas as ações e enviadas as ordens às tropas nas divisas e ilhas do rio Grande. Fico a imaginar a movimentação dos soldados que entravam e saiam do Grêmio, os carros oficiais carregados de armas, colchões e comida, além do coração apertado das mães que viam seus filhos tão jovens partirem a um destino incerto e perigoso. Penso no sofrimento dos soldados de ambos os lados à beira do rio, entrincheirados nas dunas naturais de areia ou em cabanas improvisadas nos campos de capins, com o frio de inverno e ataque de animais. Soldados nem sempre bem munidos que caiam em emboscadas das tropas inimigas, atravessando o rio gelado e sendo capturados nos acampamentos rivais.

Diante disso, pensar em como a cidade se transformou num campo de guerra e o quanto isso impactou a vida de todos, é ir além do feito histórico, é se sensibilizar com a causa humana. A Revolução de 1932 tem mesmo interessantes camadas e paisagens.