Remédio na água
O Diário - 11 de julho de 2025

José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente do Programa de Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo
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Você está bebendo um copo d’água e, sem saber, engole resíduos fármacos. Remédios como os antibióticos, anticoagulantes, antidepressivos, anticoncepcionais, além de outros medicamentos, estão na água que bebemos. Pior ainda, a água tem cocaína, expelida na urina. E o sistema de tratamento não elimina resíduos de microplásticos. Nem os coliformes fecais expelidos pelo esgoto “in natura” das ocupações clandestinas em região de mananciais.
A boa notícia é que pesquisadores da Escola Politécnica da USP estudam o assunto e já comprovaram a eficiência de nova forma de se remover contaminantes orgânicos de sistemas hídricos. Os nanomateriais são manipulados para eliminar os fármacos da água que chega às torneiras.
O problema é sério e grave. Mais de quinhentas toneladas de droga são consumidas no Brasil a cada ano. A estimativa da equipe encarregada das pesquisas na Poli é de que os resíduos remanescentes estejam em concentrações entre 0,5 e 10 nanogramas por litro nos corpos hídricos.
A situação da única represa abastecida com nascentes paulistanas, a Guarapiranga, é dramática. O Instituto de Engenharia elaborou estudo em que aponta a existência de todos esses itens, em água contaminada no reservatório que já perdeu cinco metros de profundidade ao longo dos anos. É importante que a respeitada “Poli”, um dos nichos mais celebrados da USP, esteja a estudar o assunto e a encontrar fórmulas de descontaminação da água. Por enquanto, os estudos focaram o paracetamol, ou acetaminofeno, um conhecido analgésico.
Todavia, a ocupação clandestina, irregular e criminosa da área de mananciais, que não é destinada a receber moradias, mas deve ser preservada para servir a milhões de paulistanos, faz com que se necessite de tenaz atuação do Poder Público, ao lado da Polícia ambiental, da Polícia Civil e Militar, do Ministério Público e do sistema Justiça, para que esses males tenham paradeiro.
Foram anos de omissão e negligência. Até que a situação chegasse a níveis insuportáveis. Agora, os custos de recuperação da qualidade da água, na Guarapiranga e em outros reservatórios, onerarão muitos daqueles que, embora nada tendo feito de errado, estão colhendo os frutos nocivos da incúria e do desleixo. Quando é que a defesa das águas merecerá atenção de toda a sociedade?