Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

A história da Igreja no Brasil é marcada por missionários que deram sua vida para semear o Evangelho em terras ainda desconhecidas. Entre esses grandes nomes brilha com luz especial o do Bem-Aventurado Inácio de Azevedo, jesuíta português, considerado protomártir do Brasil, cuja vida e martírio são testemunhos ardentes da caridade missionária e da fidelidade ao chamado de Deus. Inácio de Azevedo nasceu em 1526, em Porto, Portugal, numa família nobre. Desde jovem foi educado na fé cristã e cresceu em ambiente de refinamento e influência. No entanto, mesmo diante de tantas possibilidades mundanas, seu coração se inclinava para o serviço de Deus e dos mais pobres. Aos 18 anos, ingressou na Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola, com o desejo profundo de consagrar sua vida à missão. Em 1566, o Pe. Inácio de Azevedo foi nomeado Visitador das Missões Jesuíticas no Brasil. Durante cerca de dois anos percorreu diversos territórios da colônia portuguesa, visitando aldeias indígenas, colégios e núcleos de evangelização. Comoveu-se profundamente com a realidade do povo e com o heroísmo dos missionários que ali atuavam. Percebeu, porém, que era urgente enviar novos operários para a messe. Retornando à Europa, dedicou-se a recrutar jovens jesuítas dispostos a deixar tudo para evangelizar o Brasil. O fruto desse esforço foi a formação de um grupo de 40 missionários, a maioria jovens, que com ele embarcariam rumo à América. Em 5 de julho de 1570, o navio que levava Inácio de Azevedo e seus 39 companheiros partiu das Ilhas Canárias em direção ao Brasil. No entanto, poucos dias depois, nas águas próximas à Ilha de Palma, a embarcação foi atacada por corsários franceses calvinistas — inimigos ferrenhos do catolicismo. Inácio de Azevedo e seus 39 companheiros foram beatificados pelo Papa Pio IX em 11 de maio de 1854. Seu testemunho é celebrado especialmente no dia 17 de julho, data do martírio. O Bem-Aventurado Inácio é hoje considerado patrono das missões no Brasil e exemplo de missionário que uniu cultura, santidade, coragem e profundo amor pela Igreja. Seu martírio não foi derrota, mas semente fecunda: o sangue dos mártires tornou-se impulso para a consolidação da fé cristã no Brasil. A vida de Inácio de Azevedo nos recorda que a vocação missionária nasce do encontro pessoal com Cristo e se realiza no desejo de que todos O conheçam. Mesmo diante de perigos, distâncias e perseguições, ele não hesitou: amou até o fim. Num mundo que ainda carece de evangelizadores, o testemunho deste bem-aventurado nos impulsiona a sair de nós mesmos, a amar sem reservas e a anunciar, com palavras e com a vida, que Cristo vive e deseja salvar a todos.