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“A infância dos BRICS e o xilique do Tio Sam”

O Diário - 26 de julho de 2025

“A infância dos BRICS e o xilique do Tio Sam”

Aparecido Cipriano, Mestre em Educação (Unesp). Especialista em Gestão Pública (UFSJ), Orçamento Público Municipal (ALMG)

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Quando eu era criança — e talvez você também — sempre tinha aquele colega que armava a confusão e depois sumia. O plano era simples: chegava sorrateiro e dizia algo como “fulano falou mal de você, hein!”. A gente, ingênuo e com o sangue nos olhos, ia tirar satisfação... e, no fim, quem acabava no castigo era a gente, enquanto o tal “mensageiro da discórdia” só observava de longe, com a cara mais lavada do recreio.

Pois bem, parece que a política internacional resolveu se inspirar no recreio da escola. Em pleno século XXI, temos um repeteco dessa cena, mas em escala global. Lá estão os BRICS — aquele grupinho alternativo de amigos: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — que se reúnem para desafiar os “populares” da escola, também conhecidos como EUA e seus aliados.

Acontece que, numa dessas conversas de cantina geopolítica, China e Rússia — os mais articulados da turma — jogaram a ideia: “E se a gente desse uma desvalorizada no dólar, hein? Só pra ver o que acontece…”. O Brasil, todo empolgado, achando que agora ia ser protagonista e não só coadjuvante no rolê internacional, abraçou a ideia. Nosso presidente, com aquele jeitão de quem quer justiça no mundo, subiu no palanque e mandou ver: “Temos que acabar com a hegemonia do dólar!”.

E quem escutou isso do outro lado do mundo? Ninguém menos que o sempre sutil e equilibrado Donald Trump, que, ao melhor estilo “meu brinquedo, minhas regras”, resolveu retaliar. Resultado? Taxação nas exportações brasileiras. E, claro, um puxão de orelha com sotaque norte-americano.

Agora, quando o Brasil olha pros lados esperando o apoio dos colegas de BRICS, o que ouve? Um sonoro: “Foi ele que disse... a gente nem tava nessa reunião”. Rússia e China, como bons articuladores de confusão, já estão de mãos para o alto, como quem diz: “Não fomos nós que incentivamos. O Brasil que quis falar”.

E lá estamos nós,  o Brasil, no meio do pátio global, levando bronca do Tio Sam, enquanto os amiguinhos fuxiqueiros fingem que estavam brincando de Uno esse tempo todo. Moral da história: a política internacional continua sendo um grande recreio. Só que agora, em vez de castigo no canto da sala, a gente leva é imposto, sanção e discurso atravessado.

Mas quem sabe, numa próxima, o Brasil não aprende a escutar mais antes de falar...