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Elipse

O Diário - 1 de agosto de 2025

Elipse

Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais 

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Concisão e coordenação

É comum encontrarmos frases como “É responsável pela organização, arquivo e segurança” em documentos administrativos ou descrições de cargos. A construção soa fluente, natural e gramaticalmente correta. Isso porque, mesmo sem repetir “pela” antes de cada item, o leitor compreende que o termo elíptico (omitido) ainda atua sobre todos os elementos da lista. Situações como essa revelam como a elipse, quando bem utilizada, contribui para uma linguagem mais ágil, sem renunciar à correção gramatical e à clareza interpretativa. Nesse contexto, dois aspectos merecem atenção: o uso da elipse com regência homogênea e os riscos da omissão inadequada em estruturas coordenadas.

A elipse é um recurso legítimo da norma-padrão que favorece a concisão sem comprometer a clareza, desde que as exigências gramaticais de regência se mantenham homogêneas. No exemplo “É responsável pela organização, arquivo e segurança”, a preposição “por” rege os três termos, mesmo aparecendo apenas uma vez. O mesmo se observa em construções como “Ela foi vítima de preconceito, discriminação e exclusão”, em que a preposição “de” está elíptica, mas claramente subentendida. Esses casos ilustram como a economia linguística pode coexistir com a precisão, desde que a estrutura seja bem construída.

Por outro lado, o uso inadequado da elipse pode comprometer a compreensão e violar regras formais, especialmente quando há mudança de regência entre os termos coordenados. Frases como “A empresa precisa e confia nos gestores” incorrem nesse erro, pois os verbos “precisar [de]” e “confiar [em]” regem preposições diferentes. O que não ocorre nesta reescrita: “A empresa precisa de gestores e confia neles”. Portanto, saber omitir é tão importante quanto dominar a regência. Aliás, a boa escrita não é apenas sobre o que se coloca, mas também sobre o que se decide não inscrever.

Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais