Sono que mata
O Diário - 3 de agosto de 2025

Carlos D. Crepaldi Junior Advogado especialista em Gestão e Direito de Trânsito Conselheiro do CETRAN-SP Diretor da ABATRAN
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Você ronca? Se sim, isso pode ser mais do que um incômodo para quem dorme ao lado. Pode ser um alerta para um distúrbio sério, com consequências graves inclusive no trânsito. A Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) é um distúrbio silencioso que pode transformar uma simples viagem em risco de vida. Caracterizada por interrupções na respiração durante o sono, a AOS fragmenta o descanso e causa sonolência diurna, lapsos de atenção e reflexos lentos, condições que afetam diretamente a segurança no trânsito.
Segundo estudo publicado na revista Sleep em 2022, motoristas com AOS apresentaram risco quase duas vezes maior de se envolver em acidentes, e quanto mais grave o quadro, mais frequentes foram comportamentos perigosos como freadas bruscas, aceleração sem motivo e desatenção em sinais vermelhos.
A ResMed, referência em distúrbios do sono, aponta que pacientes com AOS leve têm 7% mais chance de sofrer acidentes, moderada 13% e grave até 123% a mais. E mais, dormir seis horas ou menos por noite, mesmo sem apneia diagnosticada, já aumenta em 33% o risco de colisões. A 9ª edição da Revista Sono revelou que cerca de um terço dos motoristas brasileiros já admitiu sentir sono ao dirigir, mas poucos relacionam isso a um distúrbio de sono.
Existe tecnologia, inclusive, para motoristas que dormem no próprio veículo, como caminhoneiros. O Aparelho Intraoral (AIO) é alternativa viável, já que não depende de fonte elétrica contínua como o CPAP.
O sono de má qualidade compromete reflexos de forma comparável ao álcool, mas, ao contrário da embriaguez, não existe fiscalização objetiva para detectá-lo nas estradas. Reconhecer os sinais e buscar tratamento não é apenas melhorar a qualidade de vida: é salvar vidas, inclusive a sua e a de quem cruza seu caminho.