Por Dom Milton Kenan Júnior, Bispo de Barretos

São Lucas no seu evangelho descreve uma viagem que Jesus faz para Jerusalém, a Cidade Santa, onde haveria de dar-se a sua Paixão, Morte e Ressurreição. No decorrer desta viagem, muitas vezes a sós com seus discípulos ele os instrui a respeito da sua boa nova. Mas, acontece também, que muitos ao longo do caminho se aproximam dele para ouvi-lo, para obter a cura de uma enfermidade, e também colocar-lhe suas dúvidas. No texto do evangelho deste domingo (Lc 13, 22-30) alguém se aproxima de Jesus e lhe pergunta se é verdade que poucos se salvam. Jesus não responde à pergunta, mas aproveita a ocasião para falar da condição para a salvação. E ele se serve da imagem da “porta estreita”. Ele diz que é preciso fazer todo esforço possível, pois muitos tentarão entrar, mas não conseguirão. Naquele tempo era comum a noite as cidades fecharem os portões que davam acesso a cidade, e deixarem uma pequena porta, para que aqueles que chegassem durante a noite pudessem entrar. Jesus servindo-se disso diz que a condição para entrar no Reino é entrar pela porta estreita. Em outra ocasião, Jesus diz que ele é a porta do redil das ovelhas. Nós somos levados então a compreender que para salvar-se a medida é Cristo. Tornar-se semelhante a Cristo é a condição para participar do seu Reino. E isso convenhamos embora seja um convite que é feito para todos, é algo exigente, pois nos obriga a confrontar com ele nossos critérios, nossas decisões, nossas escolhas. Como diz o poeta: “Amar como Jesus amou, sorrir como Jesus sorrir”, e nós podemos completar dizendo “perdoar como Jesus perdoou”, “servir como Jesus serviu”. Não basta dizer que o conhecemos, que escutamos a sua palavra, que frequentamos a igreja para ser admitido ao Reino; pois, ele mesmo diz que a muitos ele dirá no último dia: “Não sei de onde sois”. Muitos dirão que comeram e beberam com Ele, pregaram a sua palavra e realizaram milagres em seu nome. E, no entanto, Ele dirá que não os conhece; porque embora fizessem tantas coisas em seu nome, não comprometeram a vida no amor, no serviço e na doação de si mesmos. Identificar-se com Jesus implica reduzir o espaço do egoísmo, diminuir a presunção e a autossuficiência, abaixar as alturas do orgulho e da soberba, superar a preguiça e atravessar o risco do amor, até a cruz se for preciso. Não nos iludamos não tem grande valor ter o nome de cristãos, se não somos de fato. Não basta conhecê-lo, se não nos esforçamos por viver como Ele viveu.