Por Pe. Flávio Pereira, Vigário Catedral, Barretos-SP

Em Primeira Samuel lemos: “O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração (1Sm 16,7)”. Tal passagem remonta o exato momento em que o profeta é enviado por Deus para ungir o futuro rei de Israel. Ao estar diante dos irmãos de Davi, os quais possuíam aparência imponente, jovial e robusta, Samuel vê diante dele a possibilidade de que o escolhido deva ser um deles. Neste momento observamos que Deus não se centra na aparência, uma vez que a eleição do rei recai sobre o jovem pastor, que parecia frágil, mas possuía um coração puro, fiel e sincero. Tal episódio, embora narrado há milênios, ainda hoje permanece atual e faz com que sejamos provocados na atualidade: quais olhos nos veem? Como nos vemos? Como Deus me olha? Como a sociedade me vê? A beleza exterior é importante, mas em nossa caminhada de fé, devemos buscar também fazer com que a beleza interior aconteça, a fim de que reflitamos no exterior aquilo que temos em abundância dentro de nós. Se observarmos as redes sociais, veremos quanto de espaço há em termos de dedicação ao mostrar-se. De todo, isso não é ruim, mas até que ponto é real, sincero, verdadeiro e prudente? Felicidade virou sinônimo de um clique ou curtida recebida, ou mesmo sinônimo de imediatismo, a fim de que haja sucesso e aceitação. No trecho bíblico citado, vê-se que enquanto uns se preocupavam com a aparência (aquilo que era exterior), outro se preocupou com o seu interior, e ali estava sua verdadeira beleza, tanto que o Senhor lhe olhou, lhe notou, lhe escolheu e lhe elegeu. Agradar aos olhos do Senhor não é meramente fazer coisas visando curtidas, mas sim construir-se de dentro para fora, ser coerente entre fé e vida. Cuidar de si não se configura como um problema, no entanto, o excesso a busca pela beleza pode ser transformado em um peso. Buscar aprovações nem sempre foi a melhor solução, pois, se por um lado agradamos as pessoas, por outro acabamos por nos desagradar e nos desconhecer, o que pode fazer com que sejamos mergulhados em crises de ansiedade e baixa autoestima, simplesmente por não nos acharmos dentro dos padrões que nos impomos (ou nos impõem). Em Deus, observamos que a beleza verdadeira está além de medidas perfeitas, uma vez que ela nasce do interior, tendo como pontos de partida a compaixão, a generosidade, o amor e tantos outros sentimentos que nos libertam de amarras impostas. Quando falamos de beleza, ou do belo, vemos que o ser humano fora criado imagem e semelhança do Deus (Gn 1,27), por isso, sendo Deus o Belo por excelência, o homem também traz em si essa marca da beleza, já que fora criado à sua imagem e semelhança. O Senhor não se prende às aparências, portanto, todos somos chamados a reconhecermo-nos belo diante do Senhor, que não olha as aparências, mas vê nosso coração e interior!