Esqueci minha senha
Amor que dá de beber – primeira parte

Diocese de Barretos - 13 de setembro de 2025

Amor que dá de beber – primeira parte

Amor que dá de beber – primeira parte

Compartilhar


Por Diác. Matheus Flávio, São Gabriel Arcanjo, Jaborandi-SP

Continuando a leitura da carta encíclica Dilexit nos do Papa Francisco, hoje chegamos ao quarto capítulo. Como esse capítulo é longo, dividimos em duas partes. A sede do amor de Deus é simbolizada na promessa das águas vivificantes do Antigo Testamento: “Tirareis água com alegria das fontes da salvação” (Is 12,3). Profetas como Ezequiel anunciaram uma água purificadora que restauraria a vida (Ez 36,25-26; 47,7-9). Essa promessa se cumpre no Messias, especialmente no evento pascal: “Um dos soldados trespassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água” (Jo 19,34), identificando o lado aberto de Cristo como “a fonte aberta” profetizada por Zacarias (Zc 12,10; 13,1). Jesus mesmo já havia anunciado no último e mais solene dia da festa das Tendas: “Se alguém tem sede, venha a mim […] hão de correr do seu coração rios de água viva” (Jo 7,37-38). Tudo se realiza plenamente na cruz, de onde brota a vida nova. O Apocalipse retoma o tema: “O que tem sede que se aproxime; e o que deseja beba gratuitamente da água da vida” (Ap 22,17). Na tradição cristã, os Padres da Igreja viram no lado de Cristo a fonte dos sacramentos: “Em Cristo permanece a fonte de todo o Espírito Santo” (n. 102). Santo Agostinho associou o gesto do discípulo amado reclinado sobre o peito de Jesus à intimidade com a sabedoria divina (n. 103). São Bernardo reconheceu nas chagas de Cristo a revelação da misericórdia: “O segredo do seu coração é patente através das chagas do corpo” (n. 104). Guilherme de Saint-Thierry convidava a entrar no Coração de Jesus como no “doce maná da sua divindade” (n. 105). São Boaventura uniu esses aspectos, vendo no Coração de Cristo fonte de graça e lugar de amizade (n. 107-108). Nos séculos seguintes, a devoção se difunde. Mulheres santas como Gertrudes de Helfta e Matilde de Hackeborn narraram experiências místicas de repouso no Coração de Cristo (n. 110). São João Eudes foi pioneiro ao instituir a festa litúrgica do Coração de Jesus (n. 113). São Francisco de Sales destacou o caráter pessoal desse amor: “Este coração tão adorável e tão amável do nosso Mestre, todo ardente de amor por nós” (n. 115). Seu pensamento inspirou as experiências de Santa Margarida Maria Alacoque, em Paray-le-Monial, que transmitiu as revelações do Coração de Cristo como “fornalha ardente” de amor (n. 119-124). Assim, da Escritura à mística, o Coração trespassado de Jesus é apresentado como fonte de vida, lugar de encontro e sinal definitivo do amor de Deus.