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O poder dos advérbios

O Diário - 14 de setembro de 2025

O poder dos advérbios

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie

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Pequenos termos, grandes sentidos

No uso cotidiano da língua, muitas vezes é o detalhe que define o impacto de uma mensagem. Um simples advérbio pode transformar a percepção do leitor ou ouvinte, acrescentando intensidade, modo ou tempo à ação descrita. Essa característica mostra que tais palavras, embora pequenas, exercem influência decisiva sobre a clareza e a expressividade do discurso. Nesse horizonte, destacam-se dois aspectos fundamentais: o papel do advérbio como elemento de precisão semântica e a flexibilidade dos advérbios terminados em “-mente”, que ampliam as possibilidades comunicativas. 

O advérbio atua como recurso essencial para garantir a nitidez do enunciado. Ao qualificar verbos, adjetivos ou até outros advérbios, introduz matizes que evitam ambiguidades e reforçam a clareza da ideia. Dizer “chegou” não comunica o mesmo que “chegou cedo”, assim como “falou” não equivale a “falou calmamente”. Em cada caso, a circunstância adicionada pelo advérbio orienta a interpretação do leitor, que passa a compreender não apenas a ação, mas também o contexto em que ela se realiza. A precisão, nesse sentido, é o grande mérito dessa classe de palavras.

Já os advérbios terminados em “-mente” representam um dos mecanismos mais expressivos da língua portuguesa. Ao derivarem de adjetivos, levam para o campo da circunstância a qualidade que antes era atributo de um substantivo. Palavras como “seguramente” e “felizmente” não apenas descrevem o modo de agir, mas também revelam uma avaliação subjetiva do falante. Nessa transformação, a língua ganha plasticidade, ajustando-se às necessidades comunicativas e tornado o discurso mais denso e expressivo. Reconhecer essa riqueza é compreender que cada advérbio acrescenta uma peça única ao mosaico da significação linguística.

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie