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O Silêncio de Deus na Derrota

Diocese de Barretos - 18 de setembro de 2025

O Silêncio de Deus na Derrota

O Silêncio de Deus na Derrota

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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

Na experiência de fé, muitas vezes buscamos encontrar Deus na potência, na força e nas grandes vitórias da vida. Tendemos a acreditar que a manifestação divina se revela naquilo que é grandioso, glorioso e imponente. No entanto, a pedagogia de Deus segue um caminho diferente: Ele não fala na potência e na grandeza; Ele fala na derrota e na fraqueza. Quando o profeta Elias buscou encontrar o Senhor no Monte Horeb, ele esperava encontrá-Lo no vento impetuoso, no terremoto ou no fogo. Mas o Senhor não estava ali. Deus se manifestou, sim, no sopro suave (cf. 1Rs 19,11-12). Assim também é em nossa vida: não é no barulho das vitórias humanas que o Senhor fala, mas no silêncio das nossas quedas, no vazio das nossas impotências, na humildade da derrota. Cristo é o maior testemunho disso. Ele não venceu pela espada, mas pela cruz; não pelo poder dos homens, mas pela obediência ao Pai; não pela glória dos aplausos, mas pela solidão do Calvário. Aos olhos do mundo, a cruz foi fracasso; aos olhos da fé, foi triunfo do amor. Como nos recorda São Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10). A lógica humana valoriza o êxito, a conquista e o reconhecimento. Mas a lógica de Deus é a lógica da cruz. Foi no Calvário, em meio ao sofrimento, à humilhação e ao aparente fracasso, que o Senhor manifestou a plenitude do Seu amor. A cruz de Cristo nos recorda que a vitória de Deus nasce do silêncio, da entrega e da confiança radical, mesmo quando tudo parece perdido. Por isso, não devemos temer a derrota. A derrota, quando vivida à luz da fé, não é sinal de abandono, mas espaço de encontro. Ela desarma nosso orgulho, desmonta nossas seguranças humanas e nos convida a entrar no silêncio de Deus. E é nesse silêncio — que não é ausência, mas presença discreta — que a alma aprende a escutar a voz que não grita, mas sussurra no íntimo. A vitória mundana nos incha, mas a fraqueza nos purifica. O fracasso, assumido com humildade, abre-nos à experiência de dependência total de Deus. Quando não temos mais palavras, nem recursos, nem forças, o Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis (cf. Rm 8,26). Assim, a derrota não é o fim, mas o começo de um caminho novo. Depois da derrota, o coração se coloca no silêncio diante de Deus e descobre que Ele estava ali o tempo todo — não para nos eximir da dor, mas para nos ensinar a transformar a dor em esperança. A fé cristã não elimina a cruz, mas a ilumina. Não anula a fraqueza, mas a ressignifica. Pois o poder de Deus se aperfeiçoa justamente na fraqueza (cf. 2Cor 12,9). Que aprendamos, portanto, a não temer as nossas quedas e derrotas. Que, ao invés de fugir delas, possamos acolhê-las como ocasião de encontro com o Senhor que fala no silêncio, que age na fraqueza e que nos levanta com a força do Seu amor.