Ação e Estado

O predicado verbonominal é uma das construções mais expressivas da língua portuguesa, porque consegue reunir, em uma única estrutura, movimento e qualidade. Quando alguém afirma “os atletas chegaram exaustos” ou “a criança voltou feliz da escola”, não se comunica apenas a ação, mas também o estado ou a condição dos sujeitos. Esse fenômeno, que a gramática denomina predicado verbonominal, demonstra como a língua possui mecanismos para condensar significados. Aliás, a esse respeito, há dois aspectos dignos de nota: a ampliação da expressividade da frase e a possibilidade de atribuir características tanto ao sujeito quanto ao objeto.

O primeiro aspecto a considerar é que o predicado verbonominal amplia a expressividade da frase ao combinar ação e estado do sujeito. Em “os alunos voltaram cansados, o verbo “voltar” indica o deslocamento, mas o adjetivo “cansados” explica a condição dos alunos. Já em “o médico respondeu sério”, o verbo “responder” apresenta a ação, enquanto o predicativo “sério” qualifica a maneira como a resposta foi dada. Essa dupla informação torna a comunicação mais fiel à realidade, em que as ações raramente aparecem desvinculadas de uma atitude, sensação ou consequência.

Outro ponto relevante é a capacidade dessa estrutura de atribuir características ao objeto da ação. Em “os colegas consideram Matteo inteligente”, há tanto a ação de considerar quanto a atribuição de uma qualidade ao “objeto” Matteo. Do mesmo modo, em “o juiz julgou o réu culpado”, observa-se a união entre o ato de julgar e a caracterização do réu culpado. Essa função permite condensar em uma única oração informações que poderiam ser divididas em duas, otimizando a clareza do discurso. Portanto, reconhecer essa função é perceber que a língua não apenas descreve o mundo, mas também o organiza de maneira engenhosa, transformando ideias complexas em frases claras e acessíveis.

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie