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Bastante ou bastantes

O Diário - 12 de outubro de 2025

Bastante ou bastantes

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie

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Pronome ou advérbio

Nem sempre é fácil perceber, mas a diferença entre uma frase bem construída e outra ambígua, muitas vezes, pode depender de uma única letra. Quando se diz “bastantes alunos participaram”, há uma clara referência à quantidade plural. Por outro lado, quando se diz que o ensaio estava “bastante confuso”, a ideia é de intensidade. Essa distinção, aparentemente sutil, mostra que a língua portuguesa é movida por critérios de lógica e precisão, mesmo nas formas mais cotidianas. É justamente essa alternância de função que revela o quanto o uso da palavra “bastante”, seja como pronome indefinido, seja como advérbio, exige atenção e sensibilidade linguística.

O primeiro aspecto relevante é que o valor semântico do pronome indefinido determina sua forma e função. Em “ele tem bastante coragem”, o termo “bastante” atua como advérbio e, por isso, permanece invariável. Já em “eles têm bastantes amigos”, a mesma palavra tem função de pronome indefinido plural, referindo-se a um número indeterminado de pessoas. Essa diferença não é meramente gramatical, mas de sentido: no primeiro caso, expressa intensidade; no segundo, quantidade. Saber distinguir esses usos permite ao usuário, especialmente na escrita, evitar ambiguidades e comunicar ideias de modo claro e elegante.

Outro ponto fundamental é que a flexão de número nos pronomes indefinidos traduz nuances de precisão e ênfase. Dizer “pouco esforço gera bons resultados” não equivale a afirmar “poucos esforços geram bons resultados”. Isso porque, no singular, há a noção de insuficiência; no plural, de repetição ou variedade de tentativas. Essa flexibilidade expressiva revela a riqueza da língua, que se adapta ao que se deseja dizer com exatidão. Portanto, é de suma importância reconhecer e valorizar o poder da palavra pesada e medida, aquela que traduz o pensamento não pela pressa, mas pela escolha consciente.

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie