A Idade Que Não Se Conta: Os 9 Meses Antes da Adoção
O Diário - 14 de outubro de 2025
Vitória de Mendonça Siqueira, estudante do 9º período do curso de Medicina da FACISB, orientada pela profª Bárbara Sgavioli Massucato
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A maioria das crianças é adotada com meses ou anos de vida, mas sua história começa antes. A gestação, mesmo invisível aos olhos da nova família, pode marcar profundamente o desenvolvimento emocional e exige cuidado desde o início.
A adoção é um ato de amor, mas também traz muitos desafios. A criança que é adotada passou por mudanças importantes logo no começo da vida, como a separação da mãe biológica. Mesmo sem lembrar disso, essa experiência pode deixar marcas emocionais.
Além disso, é comum que a família adotiva não tenha informações completas sobre a gestação da criança, se houve uso de álcool, medicamentos, exposição a altos níveis de estresse ou um pré-natal inadequado Todos esses fatores podem impactar diretamente o cérebro em desenvolvimento e aumentar as chances de a criança apresentar, no futuro, transtornos do neurodesenvolvimento, como o TDAH ou transtorno do espectro autista, distúrbios do comportamento ou sintomas ansiosos e de humor deprimido.
O psiquiatra americano, C. Robert Cloninger, também estudou o comportamento de crianças adotadas e observou que tanto os fatores genéticos quanto ambientais influenciam sua personalidade. Ou seja, mesmo quando a nova família é amorosa, é possível que a criança enfrente dificuldades emocionais em consequência da sua história anterior. A psicoterapia é uma ferramenta que pode colaborar muito nesses casos.
O acompanhamento com um psicólogo pode ajudar a criança a compreender melhor a sua história e a lidar de forma mais saudável com sentimentos como medo, insegurança ou tristeza. Também costuma ser bastante efetivo na orientação aos pais adotivos, que muitas vezes não sabem como agir diante de comportamentos desafiadores ou o que responder quando a criança faz perguntas delicadas sobre sua origem.
Como explica a psicóloga, Elaine Braga: “a atuação do profissional de saúde mental deve ir além da triagem inicial; ela é parte do sucesso da adoção”. A psicoterapia não se reserva apenas para momentos em que algo vai mal, ela pode ser uma aliada para garantir que a nova família se construa com amor, segurança e compreensão.



