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“O sangue dos mártires é semente de cristãos” (Tertuliano)

Diocese de Barretos - 30 de outubro de 2025

“O sangue dos mártires é semente de cristãos” (Tertuliano)

“O sangue dos mártires é semente de cristãos” (Tertuliano)

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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

O martírio é uma das expressões mais sublimes da fé cristã. Desde os primeiros séculos, a Igreja reconhece nos mártires não apenas testemunhas da verdade, mas sementes de novas comunidades de fé. O sangue derramado por amor a Cristo se torna sinal de vitória, não de derrota; é a confirmação de que a vida do cristão não se fundamenta em interesses terrenos, mas na esperança da eternidade. A palavra martírio vem do grego martyría, que significa testemunho. Ser mártir não é simplesmente sofrer ou morrer, mas testemunhar com a própria vida – e, em muitos casos, com a própria morte – a fidelidade absoluta a Jesus Cristo. O mártir proclama que existe um bem maior do que a própria vida: o Senhor ressuscitado. Jesus mesmo antecipou essa verdade quando disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). Assim, o martírio não é um ato de desespero, mas de amor levado ao extremo, configurando o discípulo ao próprio Mestre que entregou sua vida na cruz. Desde Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão, até tantos homens e mulheres de todos os tempos, a história da Igreja é marcada por testemunhos que iluminam a fé. Embora nem todos sejamos chamados ao martírio de sangue, todos somos chamados ao martírio do amor e da fidelidade diária. O Papa Francisco fala do “martírio da paciência”, da perseverança na vida de oração, do cuidado dos pequenos gestos, do suportar com fé as dificuldades e perseguições sutis. Esse martírio cotidiano se manifesta: no perdão oferecido em vez da vingança; no amor silencioso diante da ingratidão; na fidelidade à fé mesmo quando ridicularizada; na entrega generosa à missão, ainda que custosa. Assim, todo cristão é chamado a ser mártir em sentido amplo: testemunha viva da esperança que não morre. Tertuliano dizia: “O sangue dos mártires é semente de cristãos”. A fecundidade da Igreja ao longo da história não se deveu ao poder ou à força, mas à entrega silenciosa e fiel de homens e mulheres que preferiram perder a vida a perder Cristo. O mártir é, portanto, sinal pascal: na fraqueza se revela a força de Deus, na morte floresce a vida, na derrota aparente resplandece a vitória da cruz. O martírio na vida dos santos é um chamado permanente à autenticidade da fé. Não se trata apenas de um evento histórico, mas de uma realidade espiritual que interpela cada discípulo de Cristo. Ao contemplar os mártires, somos convidados a não temer as cruzes, mas abraçá-las com confiança, certos de que “se morremos com Cristo, com Ele também viveremos” (2Tm 2,11).