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Pluralidades

O Diário - 28 de outubro de 2025

Pluralidades

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie

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Morfologia e Semântica

Poucos fenômenos revelam tanto da estrutura e da história de uma língua quanto o modo como ela forma o plural. Ao observarmos expressões como pedra/pedras ou caráter/caracteres, percebemos que há na língua portuguesa uma engenhosa combinação entre regras e exceções que moldam o modo de representar a multiplicidade. O plural é mais do que uma simples marca de número. Assim, compreender as pluralidades da língua é compreender também sua lógica interna e sua capacidade de adaptação, que serão exploradas sob dois aspectos: o da regularidade morfológica e o da expressividade semântica.

A regularidade na formação do plural demonstra que a língua portuguesa segue princípios estruturais claros e sistemáticos. O acréscimo do “s” em livro/livros mostra como a morfologia se organiza para preservar a harmonia entre som e forma. Mesmo nos casos em que ocorre alteração mais profunda, como “canes” (latim) que se alterou para cães (português), a mudança obedece à tradição fonética e à lógica da evolução lexical. Esses padrões não são meras convenções. Eles garantem a inteligibilidade e permitem que a língua se mantenha estável e compreensível, ainda que em constante transformação.

Se a regularidade sustenta a norma, as exceções dão vida ao idioma e revelam sua riqueza semântica. Expressões como caráter/caracteres ou bem/bens mostram que o plural pode alterar não apenas a forma, mas também o significado da palavras. Há casos, como “pêsames” e “óculos”, em que o plural se torna a única forma usual, modificando a noção de número e uso. Essas nuances mostram que o plural não é simples multiplicação de unidades, mas pluralidade de sentidos. Portanto, as pluralidades não apenas contam o mundo, mas o interpretam com precisão e elegância.

Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Mackenzie