Esqueci minha senha
Meu terço em Doha

O Diário - 25 de novembro de 2025

Meu terço em Doha

José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo   

Compartilhar


Minha recente viagem à China se fez em duas etapas. O primeiro voo até Doha, capital do Catar. Aeroporto magnífico, dotado de um jardim tropical imenso, algo impressionante. 

 Sobre o Catar, sabe-se que é um país peninsular árabe cuja paisagem abrange um deserto árido e um longo litoral no Golfo Pérsico repleto de praias e dunas. Também na costa, fica a capital Doha, conhecida pelos arranha-céus futuristas e pela arquitetura ultramoderna inspirada no antigo design islâmico, com exemplos como o Museu de Arte Islâmica, feito de calcário e localizado no calçadão à beira-mar da cidade, chamado de Corniche.

Aeroporto imenso, com grandes lojas, as mais sofisticadas marcas. De lá, continuei com a Qatar Airways, rumo a Pequim. Depois de visitar sete grandes cidades chinesas, encantar-me com a limpeza e com o verde florido dessas megalópoles, de me maravilhar com Xangai, que é um capítulo à parte, chegou o dia da volta.

Mesmo roteiro. Escala em Doha. E ali, coloco no recipiente destinado a passar pelo sistema de raio X, minha mochila, meu celular e meu terço. Não ando sem o meu instrumento de trabalho: a parcela humilde de madeira que me permite desfiar as contas do rosário e homenagear Maria.

O funcionário logo apanha o meu terço e indaga o que é aquilo. Explico que é um instrumento de oração. Ele, irado, responde: “Catholicism? Here is forbidden!”. E confiscou meu terço. Ainda tentei explicar que era recordação de minha avó. Além de objeto de oração, lembrança afetiva. Sem resultado. Colocou-me na fila de inspeção, abriu minha mochila, revirou minha mala. Reteve-me ali, mais do que o necessário.

Pode ser manifestação de fanatismo de um servidor, que não reflita a posição do país. Mas algo que me machucou. Nunca me afasto de meu terço, principalmente em viagens longas, quando posso tê-lo à mão e agradecer os dons com os quais fui cumulado, sem merecimento algum de minha parte.

Doha deixou esse amargo sabor em minha viagem, tão bem sucedida e tão inspiradora para nós, que temos de recuperar imenso tempo perdido, aproveitado pela China para superar problemas dos quais ainda não conseguimos nos livrar.