A casa antiga
O Diário - 16 de julho de 2025

Cláudia Lima
Compartilhar
Entrar numa casa milimetricamente decorada é um bálsamo para nossos olhos. Tudo no lugar, os tons combinam, as porcelanas finas e elegantes...as piscinas com seus paisagismos. É arte moderna pura. Mas você já entrou numa casa simples, que a parede da entrada é quase que um mural de histórias com seus porta retratos em madeira talhada e muitos rococós dourados? Olhe bem na foto, as manchas do tempo, o desbotado do sol, tente tirar a foto dali! Ela não sai. Está colada formando uma peça única com o porta retrato. Dali ela não sairá mais. São tantas fases, crianças, jovens e os patriarcas com suas matriarcas. Na estante há um pouco de livros, um pouco bibelos, alguns troféus de algum campeonato que aquela família tão humilde é vencedora. Ali no canto tem um violão, uma sanfona, tem um chapéu de feltro também. Lá no sítio eles sempre montam no seu alazão.
Na cozinha, as panelas mais lustrosas do mundo estão lá e o cafezinho gostoso também. Foi a tia que fez. Se for corajoso, saindo da cozinha tem uma passagem para um quintal encantado. Lá a lembrança de um tio habita com seus moedores, suas engenhocas, suas facas, barbantes, lanternas. Tem jabuticada, tem rosas, tem galinha, tem terra. Tem Vida.
Eu não sei como será quando finalmente essa casa for vendida. Ela é uma das últimas sobreviventes da minha infância. Será que demolem? Será que cimentam tudo? Quem terá ficado com as panelas ariadas...
Uma casa simples tem poesia, tem ar displicente daquilo que já é, nenhum retoque melhorará. Só não sei porque só poucos vêm isso e pensando não verem nada, demolem tudo.