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A Cooperação de Nossa Senhora na Obra da Salvação

Diocese de Barretos - 27 de novembro de 2025

A Cooperação de Nossa Senhora na Obra da Salvação

A Cooperação de Nossa Senhora na Obra da Salvação

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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos. 

Desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja reconheceu em Maria um papel singular no mistério da salvação. Sua presença humilde e fiel, desde Nazaré até o Calvário, manifesta o modo como Deus quis associar uma criatura à obra redentora de Cristo. Maria não é apenas a mãe do Salvador, mas a cooperadora mais perfeita da graça — aquela que, com o seu “sim”, colaborou livremente com o plano divino. O Concílio Vaticano II, na Constituição Lumen Gentium, ensina que “Maria cooperou de modo inteiramente singular na obra do Salvador pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, para restaurar a vida sobrenatural das almas” (LG 61). Este artigo propõe uma reflexão sobre essa cooperação mariana, suas raízes bíblicas e o seu significado para a vida da Igreja e dos fiéis. A cooperação de Maria começa com a Anunciação (Lc 1,26-38). Diante do anjo, Maria responde: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Nesse instante, o Verbo se fez carne. A salvação entrou no mundo não por imposição divina, mas por um ato de liberdade humana em perfeita sintonia com a vontade de Deus. Santo Irineu, no século II, expressou essa verdade de modo admirável: “Assim como pela desobediência de uma virgem o homem foi ferido, pela obediência de uma virgem recebeu-se a salvação” (Adversus Haereses, III,22,4). Maria é, portanto, a Nova Eva, associada ao Novo Adão na obra redentora. O seu “fiat” reverte o “não” de Eva e inaugura uma nova história: a da humanidade reconciliada com Deus. Após o nascimento de Jesus, Maria continua a cooperar com a missão de seu Filho como discípula fiel. Ela o acompanha em silêncio, guarda em seu coração os mistérios (Lc 2,19), e se faz presente nos momentos decisivos de seu ministério. Nas bodas de Caná (Jo 2,1-11), Maria revela o aspecto intercessor de sua cooperação: ela percebe a necessidade (“Eles não têm mais vinho”) e conduz os servos à obediência: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Aqui, Maria é mediadora no sentido mais puro: não substitui Cristo, mas leva os corações a Ele. Santo Ambrósio comenta: “Maria não pediu para si, mas para os outros; ela é o modelo da Igreja que intercede e serve” (De virginitate, II,12) Assim, em Caná, vemos a cooperação mariana como mediação maternal, que antecipa o papel de Maria junto à Igreja nascente. O ponto culminante da cooperação de Maria ocorre no Calvário. De pé junto à cruz (Jo 19,25), ela participa com o coração dilacerado do sacrifício redentor do Filho. Sua compaixão não é apenas sentimental; é participação espiritual e ativa na oferta de Cristo ao Pai. No Calvário, Maria se torna Mãe da Igreja (Jo 19,26-27). Sua maternidade espiritual é fruto direto de sua cooperação no mistério da cruz: como Cristo gera os redimidos pelo sangue, Maria os gera pela dor e pela fé. O Papa São João Paulo II, na encíclica Redemptoris Mater, afirma: “Maria foi associada à obra redentora de seu Filho de modo íntimo e indissolúvel; a sua maternidade espiritual brota precisamente desta união com o sacrifício redentor de Cristo” (RM 39). A cooperação de Nossa Senhora na obra da salvação é um mistério de fé e amor. Deus quis precisar do “sim” de uma mulher para realizar sua obra redentora, e Maria respondeu com plenitude. Sua colaboração não diminui a centralidade de Cristo; antes, manifesta a generosidade de Deus, que associa os humildes ao seu plano de salvação. Como Mãe e modelo dos fiéis, Maria continua a ensinar-nos o caminho da cooperação: escutar, acolher, servir e permanecer firmes junto à cruz.