A Inteligência Artificial (IA) é ancestral?
O Diário - 8 de maio de 2025

Kleber Aparecido da Silva é Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e em Linguística na Universidade de Brasília. Foi Visiting Scholar em Stanford University, Penn State University e CUNY Graduate Center, em New York. É Bolsista em Produtividade em Pesquisa pelo CNPq
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Você já deve ter ouvido ou (re)lido a frase “O futuro é ancestral”, seja por causa do livro de Ailton Krenak ou o recente álbum do Dj Alok. Mas você entende o que isso significa na prática? A juventude indígena tem contribuído para uma maior e melhor compreensão dos seus desafios e necessidades. Essa disseminação está muito relacionada à força crescente dessa juventude ocupando espaços nas ruas e na internet nos últimos tempos. Conquistando seu “lugar de fala” nos meios linguísticos, públicos, políticos, sociais e culturais.
Com esse alcance algumas ideias, percepções e/ou representações (sociais) vem se (re)consolidando como essa reflexão importante contida na frase “O futuro é ancestral”, trazida com afinco pelo ambientalista, filósofo e líder indígena brasileiro Ailton Krenak, no seu livro cujo título é esta própria frase. E, recentemente, também ganhou projeção no Brasil ao nomear o último álbum, lançado pelo produtor musical e Dj Alok. Porém, ao escutar e (re)ler a frase, nem todas as pessoas conseguem entender sua potência e compreender o valor que ela carrega. Para isso, voltarei ao protagonismo da juventude indígena e também negra que têm nos (de)mostrado a importância de um entendimento ancestral, bem como da necessidade da sustentabilidade no mundo de hoje, para (re)construir um futuro melhor.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a ancestralidade nos oferece valiosas lições que nos orientam na transformação da nossa perspectiva sobre a vida e nossa conexão com a natureza. Existe um horizonte de sustentabilidade ao qual podemos aspirar, contudo, isso requer que resgatemos os conhecimentos do passado e os incorporemos ao nosso presente, unindo-o ao futuro de forma integrada. As culturas dos povos indígenas detêm um amplo saber acerca da biodiversidade, dos ciclos naturais e das estratégias de manejo sustentável. Ao resgatarmos e valorizarmos esse conhecimento, abrimos espaço para (re)aprender com essas comunidades e incorporar suas práticas ancestrais às abordagens contemporâneas, o que contribui para (re)estabelecer uma relação mais equilibrada com o meio ambiente. Essa atitude não apenas capacita as atuais e futuras gerações a lidar com os desafios ambientais de maneira mais consciente e responsável, mas também representa uma ação transformadora. A conexão com a sabedoria ancestral dos povos indígenas nos dota de recursos para (re)construir um futuro sustentável.