A medicação como fuga dos problemas do cotidiano
O Diário - 13 de maio de 2022

Giovana Cavalheiro de Lima, estudante do 1º período do curso de Medicina da FACISB, orientada pela profª Andrea Carla Celotto
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Atualmente, estamos imersos em uma sociedade na qual a ideia sobre ter saúde é consumir saúde e o principal símbolo desse cenário são os medicamentos. A medicação como fuga da realidade é um mecanismo de defesa ao qual muitas pessoas recorrem, já que a proposta de alívio imediato do sofrimento, como em um passe de mágica, é um apelo atraente. A automedicação já faz parte da cultura brasileira desde sua gênese. Dessa forma, a indústria farmacêutica soube observar esse hábito cultural e potencializar a crença excessiva – e até certo ponto, ingênua – no poder dos medicamentos, ao lado da crescente oferta e indicação desses produtos.
É nesse viés que a automedicação, muitas vezes vista como uma solução para alívio imediato de alguns sintomas, pode trazer consequências mais graves do que se imagina. A utilização inadequada, além de efeitos adversos, intoxicação e reação alérgica, pode esconder indícios de uma doença evolutiva. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade, o Brasil é recordista mundial em automedicação, sendo cerca de 72% da população que se medica sem prescrição médica.
Sendo assim, a noção de que existe uma ecologia do corpo, que merece ser preservada e poupada de intervenções farmacológicas desnecessárias, deve se sobressair em meio à névoa densa de promessas extraordinárias e por vezes ilusórias. Portanto, faz-se necessário que a sociedade se conscientize e entenda que o mesmo medicamento que cura, pode matar ou deixar danos irreversíveis. Que reflita um pouco mais, antes de sair consumindo medicamentos desenfreadamente, e perceba que a vida saudável não está no balcão de uma farmácia, mas sim na mudança de hábitos, na prática de atividades físicas, na alimentação equilibrada ou procurando se estressar menos.