A normalização do absurdo
O Diário - 18 de maio de 2025

DANILO PIMENTA SERRANO É ADVOGADO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
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O Brasil é o país do absurdo, e isso já não é novidade para ninguém. A novidade é a normalização, ou mesmo a banalização dos absurdos diários ocorridos em nosso país. As pessoas parecem ter ficado anestesiadas com os reiterados desatinos que presenciam cotidianamente. No máximo vemos reclamações pontuais nas redes sociais, e nada além disso.
Em nosso país a persistência do sigilo de um inquérito, aberto de ofício, por um ministro da Corte Suprema há mais de 5 anos, no bojo do qual há inúmeras investigações e condenações de constitucionalidade altamente duvidosa já não causa indignação.
Também não causa indignação que as mais altas autoridades da República, incluindo inúmeros ministros de Cortes superiores, se reúnam regularmente em convescotes com empresários em hotéis de luxo em capitais europeias, em eventos muitas vezes bancados, sem transparência, por pessoas ou empresas com profundos interesses no governo, ou com processos pendentes nas Cortes superiores, sob o pretexto de “discutir temas de interesse do Brasil”.
Carece de manifesta indignação ainda as inúmeras e longas viagens de luxo desfrutadas pela primeira-dama do país, às expensas do erário público, para eventos no exterior nos quais supostamente representaria o país.
Parece não haver indignação também sobre o sepultamento do legado positivo da Operação Lava-Jato pelo STF. Ainda que tenha havido alguns abusos na condução da operação – abusos estes que vêm sendo repetidos no STF, no famigerado “inquérito do fim do mundo” – o saldo da operação é inegavelmente positivo. Todavia, todo o seu legado foi sepultado pela Corte Suprema, o que causou inegáveis impactos deletérios no ambiente de corrupção que grassa o país.
Exemplo disso é o bilionário desvio nas aposentadorias de milhões de brasileiros, recém-divulgado pela Controladoria-Geral da União (AGU), que apurou fraudes que superam os R$ 6 bilhões entre os anos de 2019 e 2024. Pelos valores, e pelas pessoas vitimadas, muitas delas hiper vulneráveis, o caso não despertou a indignação que seria de se esperar. No Brasil, o absurdo já não choca mais.