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A pedagogia da solidão

O Diário - 4 de julho de 2025

A pedagogia da solidão

Kleber Aparecido da Silva é Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e em Linguística na Universidade de Brasília. Foi Visiting Scholar em Stanford University, Penn State University e CUNY Graduate Center, em New York. É Bolsista em Produtividade em Pesquisa pelo CNPq

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Dizem que “os homens andam em bandos, jovens em pares e/ou em grupos e velhos sozinhos”. E também dizem que a gente nasce e morre sozinho. E isto é a mais pura verdade. Durante toda a nossa vida a gente fica preocupado com o que os outros vão pensar da gente, quando, no final, estaremos sozinhos. Lembro que li um texto fantástico de uma pessoa falando sobre Gene Hackman, ator premiado e reconhecido no âmbito internacional. O começo do texto dizia: “Gene Hackman morreu antes de seu coração parar de bater. Teve fome. Teve sede. E ninguém veio. E então o grande Gene Hackman, morreu. Não de doença, não de fome. Mas de esquecimento”. Gene teve uma vida de glórias, mas, no final, estava sozinho, abandonado. E estamos falando de uma pessoa que viveu 95 anos! Sendo assim, me pergunto: O que morre primeiro? O homem ou o mundo ao redor? O que acontece quando um homem se torna invisível?

Gene Hackman foi um dos maiores atores de Hollywood. Um ícone. O rosto duro, a voz grave e talento bruto. Duas vezes vencedor do Oscar. Sem dúvida, ele era amado pelo público. Mas o que isso significa quando se tem 95 anos e se está sozinho e desamparado? A fama é um engano que o tempo desfaz. O que resta quando o telefone para de tocar? Quando presumem que você não quer ser incomodado? Quando a casa confortável se torna território de esquecimento? Ninguém bateu. E o homem um dia visto por milhões, partiu sem que ninguém olhasse. A solidão dos que vivem muito por vezes me assusta. Recolho em mim cada lição dessa tragédia: morrer é caminho sem testemunhas; a fama, uma ilusão que se desmancha na poeira; e escolhas para a velhice devem considerar vários cenários, pois a vida é imprevisível. Ela nos surpreende em uma esquina qualquer, com a sua maleta transbordante de espantos.

No fim, somos casas sem luz se não há quem bata à porta. Isto foi o que aconteceu com Gene Hackman e que aconteceu recentemente com a brasileira Juliana Marins, de 26 anos, que caiu da borda de uma cratera de um vulcão na Indonésia, pois o que muitos de nós vivemos diariamente não é da “pedagogia da vida”, mas sim “a pedagogia da solidão”. Pense nisto.