A produtividade tóxica
O Diário - 9 de maio de 2025

DANILO PIMENTA SERRANO É ADVOGADO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
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Vivemos em um mundo hiperconectado, onde os dias parecem contar com bem menos do que as 24 horas que constam em nossos relógios – muitos deles “smart”, para termos mais agilidade ao vermos as dezenas de notificações que nos bombardeiam diariamente. Nesse cenário, sem nos darmos conta, acabamos ficando presos nesse ritmo frenético, de hiperprodutividade, no qual cada segundo do nosso tempo deve, necessariamente, ser utilizado da forma mais produtiva possível. É uma produtividade tóxica.
Em recente viagem a um país mediterrâneo, eu estava em uma orla terminando calmamente uma taça de vinho após uma refeição, enquanto contemplava o tranquilo vai e vem de uma pacata vila de pescadores, não muito distante da cidade. Estava de férias, e essa é uma situação que naturalmente nos convida ao ócio, ao “não fazer nada”.
Entretanto, minutos depois do término da refeição, com a taça de vinho ainda pela metade, um ímpeto de terminar logo o vinho e partir para o próximo destino, porque ainda havia planejado visitar os lugares X, Y e Z naquele dia, irrompeu em mim, e repentinamente aquele gostoso momento de ócio começou a incomodar, porque não eu poderia “perder meu tempo” de férias naquele local, pois havia tantos outros para conhecer naquela ilha.
Mas logo recobrei o meu bom senso, e passei a refletir sobre o título desse artigo. O ritmo da vida moderna nos impacta e nos molda de tal forma, que tardamos a perceber como ele vem nos privando de uma das grandes necessidades da vida: o ócio. E isso tem custado a saúde física e mental de boa parte da população.
É importante pararmos e refletirmos sobre nosso ritmo de vida, e assim nos permitirmos momentos de relaxamento, algo extremamente necessário à nossa saúde. O episódio que narrei acima me deixou essa lição.
Ah. Eu terminei calmamente aquela taça de vinho. Depois, deixei a vila de pescadores, e segui para o próximo lugar que havia planejado visitar. Outros lugares ficaram de fora. Sem problemas. Ficam como uma boa “desculpa” para retornar àquele agradável país.