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A versatilidade dos Verbos

O Diário - 23 de agosto de 2025

A versatilidade dos Verbos

Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais

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Nada de rótulos fixos

Muitas pessoas realmente acreditam que as palavras têm sentido fixo e imutável. Contudo, quando se trada dos verbos, essa ideia se desfaz com rapidez. Um mesmo verbo pode desempenhar funções distintas, alterando seu valor conforme o contexto da frase. Essa característica revela a natureza dinâmica da língua e coloca em evidência a necessidade de atenção para compreender como a escolha verbal orienta a interpretação. Nesse horizonte, duas reflexões se destacam: a flexibilidade do verbo de acordo com a construção em que aparece e a importância de uma leitura contextualizada para evitar equívocos.

A flexibilidade verbal se manifesta quando o sentido do verbo varia segundo a estrutura que o acompanha. O verbo “andar”, por exemplo, é intransitivo em “O homem anda depressa”, já que não exige complemento e expressa ação. No entanto, assume valor de ligação em “O homem anda preocupado”, pois conecta o sujeito a um estado. O mesmo ocorre com “continuar”, que pode indicar simples ação em “Ele continuou a caminhada” ou desempenhar função de ligação em “Ele continuou calado”. Esse comportamento mostra que a análise de um verbo exige sempre a observação da rede de relações sintáticas que o sustenta.

A importância do contexto emerge, portanto, como critério decisivo para definir o papel do verbo. Em “Maria continuou a tarefa”, a noção é de ação em andamento; já em “Maria continuou calma”, a leitura aponta para uma ligação que caracteriza o sujeito. Situações como essas comprovam que o verbo não existe isolado, mas depende da relação que estabelece com os demais termos da oração. Reconhecer essa dinâmica é mais do que um exercício técnico. Aliás, essas variações mostram que não há etiquetas fixas, mas usos que se ajustam às necessidades comunicativas, reforçando a ideia de que a língua é um organismo vivo em constante adaptação.

Prof. Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais