Por Padre Pedro Lopes - Vigário Paroquial São Miguel Arcanjo – Miguelópolis-SP

O evangelista Lucas (14,1-6), coloca-nos diante de um ensinamento fundamental de Jesus, que transcende o simples relato de um milagre. Ao curar um homem com hidropisia em pleno sábado, Ele não apenas realiza um ato de poder divino, mas estabelece uma prioridade radical: a vida humana e a compaixão devem sempre prevalecer sobre a mera observância da lei e a formalidade religiosa. Jesus, conhecendo o rigorismo dos que o observavam, lança uma pergunta direta e desafiadora: "É permitido fazer o bem ou fazer o mal no sábado?" A resposta, implícita na Sua ação e no Seu silêncio posterior, é clara: o bem nunca pode ser proibido. Este Evangelho é um convite corajoso para que reflitamos sobre as nossas próprias atitudes. Quantas vezes, em nosso dia a dia, nos apegamos a regras, costumes ou convenções sociais, esquecendo-nos de que o verdadeiro propósito de toda lei e de toda fé é promover o bem, a dignidade e a salvação da pessoa humana? O risco de cair no formalismo é constante. Podemos nos tornar tão presos à "letra" que perdemos o espírito da Lei, que é o amor. A ação de Jesus nos lembra que a fé é viva e se manifesta de forma concreta. Cada gesto de ajuda, cada ato de solidariedade, de acolhimento e de serviço ao próximo é uma oportunidade de viver o Evangelho na prática. O cuidado com o outro, especialmente com o mais vulnerável, é o critério que valida a nossa observância religiosa. Que sejamos inspirados a agir com coragem e discernimento, a exemplo de Cristo. Devemos ser capazes de quebrar as barreiras do comodismo e do legalismo para estender a mão a quem precisa. O bem e a caridade devem sempre prevalecer, mesmo quando enfrentamos críticas, julgamentos ou a incompreensão daqueles que valorizam mais as aparências do que a essência do amor. O Reino de Deus se constrói na primazia da misericórdia.