A Vocação Universal à Santidade
Diocese de Barretos - 6 de novembro de 2025
A Vocação Universal à Santidade
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) representou um marco na vida da Igreja, ao atualizar sua linguagem e sua missão diante do mundo moderno. Entre os muitos ensinamentos que emergiram desse evento eclesial, destaca-se com força a afirmação de que todos os cristãos são chamados à santidade, conhecida como vocação universal à santidade. A santidade não é privilégio de alguns, mas está no coração da revelação cristã. Desde o Antigo Testamento, Deus conclama seu povo: “Sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2). No Novo Testamento, essa vocação se realiza plenamente em Cristo, que, ao encarnar-se, santifica a humanidade e convida todos a segui-Lo: “Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Assim, a santidade não é um “estado especial”, reservado a monges, religiosos ou clérigos, mas a meta de todos os discípulos do Senhor. No capítulo V da Lumen Gentium, o Concílio afirma de maneira inequívoca: “Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG, 40). Essa declaração marca uma mudança significativa na consciência eclesial. Até então, muitas vezes a santidade era vista como um ideal quase exclusivo de religiosos ou sacerdotes. O Vaticano II, porém, reafirma que, pela graça batismal, todos participam da vida divina e recebem o chamado à perfeição da caridade. O Concílio também reconhece que a santidade se manifesta de formas variadas, segundo o estado de vida de cada um. Os leigos são chamados a santificar o mundo a partir de suas realidades familiares, profissionais e sociais, transformando as estruturas humanas à luz do Evangelho. Os ministros ordenados e os religiosos vivem a santidade no serviço pastoral e na consagração total a Deus. As pessoas que sofrem, unindo suas dores às de Cristo, tornam-se testemunhas silenciosas da santidade vivida na cruz. A santidade não uniformiza, mas floresce em múltiplas formas, sempre enraizada na caridade, que é o vínculo da perfeição. O Vaticano II indica caminhos concretos para que todos cresçam na vida santa: a escuta assídua da Palavra de Deus, a participação frequente na liturgia e nos sacramentos, especialmente a Eucaristia, a oração pessoal e comunitária, o exercício da caridade, a prática das virtudes no cotidiano, a fidelidade às cruzes e desafios da vida. Esses meios ordinários, vividos com perseverança, conduzem o cristão à união com Deus. A Igreja, ao longo da história, reconhece nos santos canonizados a expressão visível dessa vocação universal. Contudo, o Concílio recorda que há uma “santidade escondida”, vivida por incontáveis homens e mulheres que, em silêncio, ofertam sua vida em amor. Eles são testemunhas discretas, mas reais, do chamado de Deus. A vocação universal à santidade é um dos legados mais belos do Vaticano II.



