As Irmãs de Hamburgo
O Diário - 11 de março de 2025

PROFª ESP. KARLA ARMANI MEDEIROS, historiadora, professora de História e titular da cadeira 7 da ABC – www.karlaarmani.blogspot.com / @profkarlaarmani
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Se o objetivo é reescrever a história de Barretos inserindo nela as obras e trajetórias de mulheres, as freiras são parte importante neste todo. No caso de Barretos, elas estão presentes em vários momentos e lugares, mas talvez a obra mais conhecida delas seja o trabalho que fizeram por décadas na administração e enfermagem da nossa centenária Santa Casa de Misericórdia. No mês do Dia Internacional da Mulher, nada mais justo do que contar a vivência dessas mulheres que, encapsuladas por suas doutrinas e missões, abnegaram tempo e esforço para se dedicar ao hospital.
Voltemos a 1918, antes da Santa Casa ser inaugurada (em 1921). Na intenção de se conseguir a autorização da Igreja para doação do terreno e construção de uma Misericórdia em Barretos, foi consultado o bispo Dom José Marcondes Homem de Melo, da diocese de São Carlos, e este somente assim procedeu mediante cláusula que o hospital seria administrado por religiosas. Apenas em 1930, por intermédio do jornalista Paulo Bezerra e do comerciante João Baroni na diocese de São Carlos, que as primeiras religiosas vieram para Barretos a fim de trabalharem na enfermagem e direção interna do hospital. Tratava-se de irmãs alemãs, vindas de Hamburgo, chamavam-se Irmã Edmunda, Irmã Renata, Irmã Suitberta e as aspirantes Maria Sampaio e Catarina. Elas pertenciam à Ordem de São Francisco de Assis, por isso eram conhecidas como “Franciscanas da Imaculada Conceição”. Tal Ordem foi fundada na cidade de Graz, na Áustria, no século XIX, e, no Brasil, a congregação foi fundada pela Madre Joana Batista, também vinda da Áustria, responsável por instalar em Araraquara a sede das religiosas.
Essas irmãs atuavam como enfermeiras e administradoras, faziam os serviços contábeis e clínicos. Residindo no próprio prédio do hospital, em clausura, dispendiam de 24 horas de seus dias para atender aos doentes. Depois delas, outras irmãs assumiram os postos na Santa Casa durante muitas décadas, inclusive algumas diplomando-se em enfermagem. A história delas é longa e marcada na memória de muitos barretenses, e por isso merece ser elencada como homenagem às mulheres que ajudaram a construir o que hoje é a nossa Barretos; cidade edificada também com mãos femininas.