As plantas da minha casa
O Diário - 5 de dezembro de 2025
Claudia Lima
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As plantas da minha casa têm histórias pregressas. Algumas vieram da casa da minha mãe. São samambaias que meu pai trouxe das pescarias nos idos dos anos 70. Na parede da entrada da sala tem uma trepadeira de jiboia que alcançou o teto. Chegou aqui numa bela bacia verde que ganhei. Quanto às orquídeas, não há o que comentar: ganhei todas elas. Há, outrossim, as plantas ditas ‘da sorte’; volta e meia assalta-me o ímpeto de delas me desfazer, dada a minha absoluta falta de crença em tais superstições, contudo basta um segundo olhar, um vislumbre dos tempos que as ganhei e reconsidero a hipótese de mantê-las mais um pouco comigo. Não é por falta de sorte que vou perecer, concluo. No fundo, ando bem munida — não pelos amuletos, mas pelas histórias que eles, apesar de tudo, insistem em me lembrar. E claro, há as preciosidades: as árvores do meu irmão. O pé de manga, o de limão e o de acerolas — altivos, generosos, incontornáveis. Olhando mais adiante, deparo-me com os chifres-de-veado, os mais novos integrantes dessa pequena reserva florestal que venho cultivando. Estes, anunciam que a casa permanece viva a despeito da negligência da proprietária. Cada planta carrega uma mensagem sublime anunciando que ainda existem brechas para o novo, mesmo quando suponho que a casa — e eu — já chegamos ao limite.



