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Ativismo

karla-armani-medeiros - 26 de abril de 2022

Ativismo

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Gosto de uma carta publicada no jornal O Diário há exatos 50 anos, em 28 de março de 1972, onde Olivier Heiland externava de maneira leve e sugestiva a sua posição contrária ao desastre que estava prestes a acontecer em Barretos: a demolição do 1º Grupo Escolar para em seu lugar ser construída uma escola de linhas modernas. Um trecho da carta dizia: "O 1º Grupo Escolar já prestou o seu grande serviço durante mais de 60 anos. [...]. Não devemos permitir que o seu brilhante passado possa ser empanado tendo no futuro a lamentar a nossa falta de previsão".

 


Uma pena as palavras de Heiland não ter atingido coro. Foi-se o 1º Grupo. E mais, suas palavras parecem ter virado profecia, pois aqui do futuro não há quem não se lamente contra aquele "abominável crime" (conforme escreveu o poeta Nidoval Reis ao jornal Cidade de Barretos em 1977). Será que se mais pessoas tivessem se manifestado respeitosamente à imprensa e entrado na sinfonia de Heiland, a demolição não teria sido evitada? Quando conversamos com as pessoas que viveram naquela época, é praticamente unânime o desacordo com o que aconteceu, mas, então, por que ficaram caladas? O barulho teria dado resultado? O "não" elas já tinham, e o "sim" era uma esperança.

 


Não se manifestar é também um tipo de manifestação. Calar-se, seja por qual motivo, é ser permissivo a situações que outrora não poderão ser recompostas. O coro precisa vir antes de Inês ser morta. Quando o assunto é cultura e seus patrimônios históricos, o tempo é implacável, pois só restarão cacos.

 


Talvez o problema (ainda hoje existente) seja a confusa sensação de alguns considerarem manifestações contrárias a certas situações como "política" (ou o termo da vez, politicagem). Quando o correto é sobrepor a este argumento turvo o sentido de responsabilidade e cidadania. Manifestar-se para evitar perdas patrimoniais é ativismo e comprometimento com a terra onde a gente quer ver crescer e não lamentar. (Olivier, 50 anos depois, eu assino a carta junto com você. Mais alguém?).