Esqueci minha senha
Brasília e o poder

O Diário - 5 de outubro de 2025

Brasília e o poder

Rogério Ferreira da Silva é cirurgião-dentista

Compartilhar


Brasília não é movida por ideologia. É movida por algo muito mais poderoso: dinheiro e instinto de sobrevivência política. Quem ainda acredita que o jogo é sobre “convicção” não entendeu as regras. E, em política, quem não entende as regras, dança. O discurso no microfone é sempre o mesmo: princípios, valores, projeto de país. Mas nos bastidores, o que vale mesmo é cargo, verba e poder de influência. O resto é figurino pro teatro da democracia. Emenda vale mais que discurso. Voto no plenário não nasce da consciência. Nasce da planilha. Quem libera verba fideliza. Quem segura o orçamento vira alvo. É pragmatismo, não poesia. Ideologia dura até a próxima eleição. Liberais votando com a esquerda. Esquerdistas fazendo aceno pro centrão. Em Brasília o lado que importa é o que paga, protege e projeta. Convicção? Só se couber no orçamento. Todo político pensa no próximo mandato. E para se manter no jogo, vale quase tudo. Aliança improvável (vide Lula e Alckimin), silêncio conveniente, acordo esquisito. Porque quem perde mandato, perde tudo. E ninguém quer desaparecer do mapa. O idealista puro dura pouco. Quem sobrevive vira liderança; não por ser o melhor, mas por ter aprendido a jogar com as regras do sistema sem parecer parte dele. É assim que se domina. Brasília tem seus donos. Grupos econômicos, bancadas organizadas, figuras que nunca aparecem na televisão, mas decidem quem sobe, quem cai e quem cala. A democracia é pública, mas o poder é reservado. Quem acredita no discurso vira massa de manobra. Quem entende o sistema sobrevive, manda e lucra. A política real não é sobre ideal, é sobre posição no tabuleiro. E isso vale para todos os lados; goste você ou não. Um excelente domingo pra você!