Consciência Negra à Luz da Fé Cristã:A Dignidade Humana e a Santidade da Igualdade
Diocese de Barretos - 20 de novembro de 2025
Consciência Negra à Luz da Fé Cristã:A Dignidade Humana e a Santidade da Igualdade
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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.
Hoje, Dia da Consciência Negra, é mais do que uma data histórica: é um chamado à conversão social e espiritual. É o convite para reconhecer a presença de Deus na história do povo negro, marcada por dor, resistência e fé. Para a Igreja Católica, refletir sobre essa data é uma oportunidade de reafirmar uma verdade essencial do Evangelho: todos os seres humanos são criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). Portanto, nenhuma forma de racismo, exclusão ou desprezo pode subsistir diante do olhar cristão. A fé cristã exige que a consciência humana — e, por consequência, a consciência da sociedade — se abra à justiça, à reconciliação e à fraternidade universal. A palavra “consciência” remete ao despertar da verdade interior. Celebrar o Dia da Consciência Negra, à luz da fé, é um ato de reconhecimento da dignidade ferida — uma dignidade que só pode ser plenamente restaurada pela justiça e pela caridade. O racismo, em todas as suas formas, é um pecado contra o Evangelho. O Papa Francisco, na encíclica Fratelli Tutti, recorda: “O racismo é um vírus que se transforma e, em vez de desaparecer, disfarça-se, permanecendo à espreita” (FT, 20). A Igreja, ao anunciar Cristo, não pode calar-se diante desse pecado social. O Evangelho revela que, em Cristo, todas as barreiras caem: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28). Por isso, celebrar o Dia da Consciência Negra é, para o cristão, um gesto de fé e de amor: reconhecer no rosto do irmão negro o rosto de Cristo sofredor e ressuscitado. A história do povo negro no Brasil é também uma história de fé. Desde os tempos da escravidão, os africanos e seus descendentes mantiveram viva a chama do Evangelho, mesmo quando lhes negavam a liberdade e a dignidade. Nos terreiros e senzalas, nas irmandades e comunidades católicas, a fé floresceu entre os oprimidos. A devoção a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a São Benedito, a Santa Efigênia e a tantos outros santos e santas negros é expressão dessa resistência espiritual. A Igreja reconhece nessa experiência uma sabedoria teológica vivida — uma fé que canta o Magnificat com Maria: “Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1,52). Em muitos altares populares do Brasil, Nossa Senhora é representada como mulher negra. E isso é profundamente teológico. A cor de Maria reflete a encarnação de Deus em cada cultura e povo. Em sua humildade e maternidade, ela se torna símbolo da Igreja solidária com os que sofrem. Como recorda o Papa São João Paulo II, em sua visita ao Brasil (1980): “Maria, mulher simples de Nazaré, compreende as dores dos pobres deste continente e está presente em cada um de seus sofrimentos.” Nossa Senhora Aparecida, “a Mãe Negra dos pobres”, encontrada nas águas do rio Paraíba, é sinal de uma presença divina que se revela nos esquecidos da história. Sua imagem pequena e negra fala mais do Evangelho do que muitos discursos: Deus se manifesta no que o mundo despreza. O Dia da Consciência Negra, vivido à luz da fé católica, é um tempo de graça e de compromisso. É momento de agradecer a Deus pela fé e pela resistência do povo negro, de reconhecer as feridas da história e de renovar o chamado à comunhão e à fraternidade.



