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Darcy Ribeiro era…  – Parte 2

O Diário - 15 de fevereiro de 2025

Darcy Ribeiro era…  – Parte 2

Kleber Aparecido da Silva é Professor Associado 4 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e em Linguística na Universidade de Brasília. Foi Visiting Scholar em Stanford University, Penn State University e CUNY Graduate Center, em New York. É Bolsista em Produtividade em Pesquisa pelo CNPq

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Para uma plateia preponderantemente jovem, formada, sobretudo por estudantes de graduação e pós-graduação da UFMG, Ailton Krenak tratou da relação do antropólogo e político de Montes Claros com os povos indígenas brasileiros em uma fala que misturou a sua tradicional reflexão livre, de origem oral, com leituras de parágrafos de um texto em que ele está trabalhando. Como se sabe, Darcy Ribeiro (1922-1997) dedicou boa parte de seus esforços para o estudo – e, de certa forma, para a defesa da ontologia – dos povos indígenas brasileiros. Além das várias obras ensaísticas publicadas, entre suas realizações nesse campo está a redação, como funcionário do Serviço de Proteção aos Povos Indígenas (entidade precursora da Funai), do projeto do Parque Indígena do Xingu, criado em 1961.

A partir do trinômio “Soberania, Educação e Política”, Ailton Krenak não se furtou de lançar ideias provocadoras. Ao mesmo tempo, o pensador se permitiu não as esquadrinhar totalmente, de modo a, ao contrário, convocar o público a participar ativamente do exercício intelectual de se (re)pensar criticamente as questões, em vez de recebê-las mastigadas. “Vejo que há uma expressiva juventude aqui premiando-me com a sua presença. Podem ter certeza: o medo de pensar é o que impede os avanços que a gente poderia conseguir a cada geração, e que não conseguimos porque a gente fica intimidado com o que alguém fez antes de nós com a aparência de grandioso”, introduziu, remontando todo o aparato de saber já estabelecido no mundo desde a Europa, contexto que remonta à Grécia antiga.

Após discorrer sobre a singularidade arquitetônico-social da construção de Brasília, do sonho democrático do período que antecedeu o golpe de 1964, da atuação de Darcy Ribeiro e de outros intelectuais brasileiros no fomento desse sonho e no risco recentemente vivido pela democracia brasileira de sofrer um novo golpe, Ailton afirmou: “Eles [Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, entre outros que ele havia mencionado em outros momentos da conferência] queriam a democracia. Eles acreditavam na possibilidade de que viéssemos a ser uma democracia. Mas veja, eles eram sofisticados. Eles queriam uma democracia com palácios [remetendo-se a Brasília]; eles pensavam diferente daquele discurso trabalhista que acha que pobre pode morar em qualquer lugar; aquele discurso que é muito parecido com o pensamento fascista, que sugere que pobre ‘mergulha no esgoto e sai vivo’. Então a gente não pode ficar de bobeira e ouvir uma frase fascista e uma frase trabalhista sem entender a cumplicidade ideológica que elas implicam”, provocou.