Dois inimigos da santidade
Diocese de Barretos - 15 de novembro de 2025
Dois inimigos da santidade
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Por Diác. Matheus Flávio, São Gabriel Arcanjo, Jaborandi-SP
Hoje continuamos a leitura da exortação apostólica do Papa Francisco sobre a santidade nos dias atuais e no segundo capítulo temos o destaque de dois inimigos da santidade. Na Gaudete et Exsultate, o Papa Francisco adverte contra “duas falsificações da santidade”: o gnosticismo e o pelagianismo, heresias antigas que continuam a ameaçar o coração da fé cristã (n.35). Ele explica que ambas expressam “um imanentismo antropocêntrico, disfarçado de verdade católica”, produzindo “um elitismo narcisista e autoritário” em que “nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente” (n.35). O gnosticismo, afirma o Papa, gera “uma fé fechada no subjetivismo” (n.36), baseada em conhecimentos ou experiências interiores que afastam a pessoa da realidade encarnada da fé. É uma “mente sem Deus e sem carne” (n.37), incapaz de tocar “a carne sofredora de Cristo nos outros”. Essa falsa sabedoria “prefere um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo” (n.37). Tal atitude é “uma vaidosa superficialidade”, com “muito movimento à superfície da mente”, mas sem profundidade espiritual (n.38). Francisco denuncia também o intelectualismo religioso dentro da própria Igreja, entre leigos e teólogos, que “pretendem reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo” (n.39). O gnosticismo, observa, “quer domesticar o mistério” de Deus e dos outros (n.40), gerando falsos profetas “que usam a religião para seu benefício” (n.41). Em contraposição, recorda que “Deus supera-nos infinitamente” e está “misteriosamente presente na vida de toda a pessoa”, mesmo naqueles destruídos pelos vícios (n.42). Por isso, “quem quer tudo claro e seguro, pretende dominar a transcendência de Deus” (n.41). Já o pelagianismo moderno, explica o Papa, transfere o erro do intelecto para a vontade humana: “não é o conhecimento que nos torna melhores ou santos, mas a vida que levamos” (n.47). Contudo, a confiança excessiva nas próprias forças faz esquecer que “isto não depende daquele que quer nem daquele que se esforça, mas de Deus que é misericordioso” (Rm 9,16). O pelagiano “fala da graça de Deus”, mas “no fundo, só confia nas suas próprias forças” (n.49). Francisco recorda que “a graça não nos faz super-homens” e que “só a partir do dom de Deus, livremente acolhido e humildemente recebido, é que podemos cooperar com os nossos esforços” (n.50; n.56). Ele denuncia “os novos pelagianos”, que seguem “o caminho da justificação pelas próprias forças”, manifestado na “obsessão pela lei”, na “ostentação litúrgica” e na “autocomplacência egocêntrica” (n.57). O Papa conclui reafirmando o coração do Evangelho: “toda a Lei se resume neste único preceito: ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo’” (Gl 5,14). A verdadeira santidade está, portanto, no amor, não no orgulho do saber ou na vanglória das obras (n.60–62).



