Por Dom Milton Kenan Júnior, Bispo de Barretos

No caminho que Jesus faz a Jerusalém, onde haverá de sofrer a paixão, a morte e ressuscitará, Lucas nos diz que “grandes multidões acompanhavam Jesus”. Nós podemos imaginar que à medida que Jesus caminha, sua fama vai se difundindo, e as pessoas vão ao seu encontro na espera de um prodígio, da solução de algum problema, na cura de uma doença. Qualquer outro que estivesse no lugar de Jesus ficaria envaidecido por ver tanta gente com ele; certamente agradeceria a companhia ou alguma gentileza; Jesus aproveita esta ocasião para dizer das exigências que ele impõe para os que querem acompanha-lo: amá-lo acima de qualquer outro laço de amizade e parentesco, carregar a cruz e caminhar atrás dele. E para que não tivessem dúvidas, Jesus conta duas parábolas onde a lição é bem clara: não aconteça que alguém querendo ser discípulo seu ignore as suas exigências, pois seria como um construtor que não avalia os gastos de uma obra e é obrigado interrompê-la pela metade; ou um rei que sai para guerrear com o outro, sem examinar o número do exército inimigo, sofrerá uma grande derrota. Jesus está dizendo para nós, hoje, que não é possível segui-lo de qualquer maneira; mas é preciso lucidez e responsabilidade para ser seu discípulo.  Se alguém quer segui-lo e não estiver disposto a avaliar se suas decisões correspondem ao evangelho, se seu comportamento está de acordo com a sua fé, se para ele a religião é apenas garantia de bem-estar sem compromisso que envolve toda a vida não poderá ser discípulo seu. Seguir Jesus implica correr riscos e incômodos. Segui-lo exige de nós a capacidade de discordar quando todos concordam, mesmo que tenhamos que desiludir alguém da nossa própria família, ou círculo de nossas amizades. Decidir-se por Ele exige que tenhamos coragem para remar contra corrente, para sermos fiéis ao que o Mestre nos ensinou. Avaliemos nossa vida de fé, nosso compromisso com Jesus e a sua Boa notícia. Pode ser que sejamos cristãos de bons modos, mas de maus costumes. Sempre é tempo de avaliar e mudar nossa conduta, e construirmos nossa vida em comunhão com a mensagem do evangelho.