De tempos em tempos, os jornais estampam manchetes: “Escola tal cresceu no SARESP”, “Município caiu na média do IDEB”, “Estado bate meta”. E assim, entre estatísticas e comparações, parece que a educação se resume a um boletim nacional, como se todo o trabalho diário de uma escola coubesse em um único número.

Mas a vida real da sala de aula não cabe em gráficos. A escola que se preocupa apenas em subir décimos no índice corre o risco de esquecer rostos, histórias e afetos. O IDEB até mede, mas não vê, não enxerga a criança que chega sem ter tomado café, nem o aluno que carrega na mochila mais problemas do que cadernos. Não nota a sala que teve que trocar de professor que ficou doente, não capta o esforço do docente que adapta atividades para incluir um estudante autista, nem traduz em porcentagem o acolhimento dado à diversidade de cada comunidade escolar.

Quando comparamos resultados de um ano com outro, fingimos que se trata da mesma turma, das mesmas condições, dos mesmos desafios. Mas não é. Cada ano traz novos desafios, outros alunos, outras realidades, outros mundos. Ainda assim, o número segue solitário, sem contexto, pronto para ser usado em discursos simplistas.

Tomar decisões de política pública a partir de um único dado é como tentar descrever um livro inteiro apenas pela contracapa. É reducionista, injusto — e pode até reforçar desigualdades históricas, quando se pune escolas de periferia ou com maior diversidade por terem notas mais baixas. Ignorar os porquês é, em última instância, alimentar o racismo estrutural que ainda marca a educação brasileira.

Isso não significa que o IDEB ou o SARESP devam ser descartados. Eles têm valor, sim, como termômetro parcial. Mas não devem ser o critério supremo, o rótulo que classifica alunos, professores e escolas. Porque educação é mais do que números, é feita de gente. E gente não cabe em índices.