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Emiliano Mundrucu: o brasileiro que desafiou o racismo nos Estados Unidos

O Diário - 14 de novembro de 2025

Emiliano Mundrucu: o brasileiro que desafiou o racismo nos Estados Unidos

DANILO PIMENTA SERRANO É ADVOGADO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

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No último fim de semana, durante uma leitura aleatória, tomei conhecimento da história de Emiliano Felipe Benício, mais conhecido como Emiliano Mundrucu.

Confesso que não me lembro de ter sido apresentado na escola à fascinante biografia do pernambucano, nascido no final do século XVIII, que foi um dos pioneiros na luta pela igualdade racial no norte dos Estados Unidos. Chama a atenção que, um país tão carente de heróis como o Brasil, a história de Mundrucu não seja ensinada nas escolas. 

O pernambucano, mulato, filho de um abastado fazendeiro com uma mulher escravizada, era um revolucionário que fugiu do Brasil para os Estados Unidos após lutar na Confederação do Equador. Certo dia, em novembro de 1832, quando viajava em um barco com sua família, da costa do estado de Massachusetts até a ilha de Nantucket, o brasileiro travou uma discussão com o capitão do barco, Edward Barker, que negou o direito de sua esposa e de sua filha, de viajarem em uma área do barco reservada para as mulheres, sob o argumento de que o acesso àquela área somente era permitido às mulheres brancas. 

Mundrucu protestou, asseverando que havia pago a tarifa mais cara da viagem, de modo que sua esposa e filha teriam direito de acessar a área. Todavia, Barker se mostrou irredutível e assim Mundrucu levou o caso à justiça dos Estados Unidos. A ação foi ajuizada por quebra de contrato, já que a passagem comprada pelo brasileiro permitia o acesso à área cuja entrada foi negada à sua família. O processo, que teve ampla repercussão na imprensa do nordeste norte-americano, foi vencido pelo pernambucano em primeira instância. Contudo, o Supremo Tribunal Judicial de Massachusetts reformou a sentença, e, ao final, o capitão Barker sagrou-se vitorioso. 

O processo movido pelo brasileiro foi pioneiro, e ocorreu quase uma década antes do episódio do ex-escravizado Frederick Douglass na Eastern Railroad, e quase um século antes do solitário protesto de Rosa Parks no ônibus em Montgomery, que deu início ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Mundrucu, esse herói brasileiro, ainda pouco conhecido no próprio país, morreu em 1863 e está sepultado no cemitério católico St. Augustine, em Boston.